Você acha que entende de economia? Conheça os erros mais comuns dos leigos.

Pesquisador israelense David Leiser listou os principais defeitos de quem dá pitaco na economia sem ser especialista no assunto.

Se você perguntar para alguém o que esta pessoa pensa sobre a economia do Brasil neste momento, ela certamente terá uma opinião. Muito provavelmente, a argumentação se parecerá com algo que você já leu ou viu em algum lugar e, principalmente, será acompanhada de um discurso inflamado, seja contra ou a favor do estilo de comando atual.

Ouvir os discursos e propostas dos candidatos à presidência, então é uma tarefa para fortes. Fica difícil entender se, afinal, a inflação está sob controle ou não, se o crescimento do País é ou não satisfatório ou se as empresas estão sendo menos ou mais lucrativas que no passado. Enquanto os economistas e as notícias parecem técnicas demais para a maioria, a opinião do vizinho ou do dono da venda soa carente de argumentos válidos.

Não se sinta mal, a culpa não é sua – é também de um erro sistêmico da nossa mente. Para David Leiser, israelense, presidente da divisão de Psicologia Econômica da Associação Internacional de Psicologia Aplicada, economia é um assunto inerentemente difícil e é natural que incorramos em vieses e outros atalhos mentais. “Sem algum treinamento em economia, é quase impossível entender”, explica.

Em pesquisas, a equipe do israelense já entrevistou mais de 2 mil pessoas de diversos países, além experimentos e conversas de maior profundidade. Em entrevista exclusiva aoiG, Leiser pontuou as principais características da visão do leigo sobre a economia. “Quando o público comum, não especializado, debate o assunto, acaba simplificando demais ou utilizando muletas”, comenta.

Complicado? Veja quais são os seis principais erros de avaliação dos leigos sobre a economia.

Erro 1: Boas novas atraem boas novas

Nem toda informação positiva para a economia gera automaticamente um ciclo positivo. Um exemplo disso é a relação entre emprego e a inflação. Quando a taxa de desemprego cai, mais consumidores vão ao mercado, elevando a demanda – enquanto a oferta não se acompanha, os preços disparam. Ou seja, bons índices de emprego tendem a elevar a inflação.

Segundo Leiser, esse é o principal atalho mental encontrado em suas pesquisas à frente do assunto. “As pessoas acham que os bons indicadores andam juntos, e os indicadores ruins também, na realidade não é sempre assim.”

Erro 2: Cada macaco fica em um galho

Exatamente por conta dessa falha no olhar sobre o todo, as análises são frequentemente estreitas e pouco equilibradas. “As pessoas ainda não entendem a economia como um sistema em funcionamento”, explica o especialista. Ou seja, o assunto da moda é o que vai recortar o seu ponto de vista, seja inflação, desemprego ou investimentos. Sua percepção sobre a economia estará inevitavelmente vinculada ao último indicador que você ouviu do vizinho ou leu no noticiário.

Erro 3: Os números não mentem

A pouca familiaridade com a rotina da economia faz com que cada quadro seja avaliado individualmente e crie uma visão extremista – seja ela bom, ou ruim. Exemplo: embora há meses se fale sobre bolha imobiliária no País, ainda não existe consenso de que ela exista – nem Robert Shiller, especialista que anteviu a bolha que disparou uma crise sem precedentes nos Estados Unidos, garabte a existência desse cenário por aqui.

Adriana Rodopoulos, economista especializada em Psicologia Econômica considera esse comportamento extremista muito típico do leigo. “Esse é o movimento da pessoa que constrói uma opinião sem grande embasamento. Qualquer assunto econômico tem uma zona muito cinzenta entre o preto e o branco”, aponta. “A pessoa tenderá a escolher o ponto de vista que favoreça sua posição política, a qual é invariavelmente empática.”

Erro 4: Crises econômicas são morais

O especialista observou que, mesmo quando leigos e especialistas têm a mesma avaliação final sobre um fato, dificilmente as justificativas para essa leitura são as mesmas. Em uma pesquisa concentrada na percepção de europeus da crise de 2009, os especialistas responsabilizaram o ciclo econômico pela catástrofe. Os leigos, por sua vez, apontaram questões éticas e morais como causadoras de uma das maiores crises da história do continente. A discussão econômica, que já está contaminada pelas opiniões políticas, mergulha em um poço de emoções que deixam os números bem longe da racionalidade matemática.

Erro 5: O desespero do copo meio vazio

Disso vem a preferência pela adoção de opiniões com avaliações negativas frente ao cenário econômico. Leiser também identificou maior pessimismo entre os leigos que entre os especialistas em economia.

O economista e consultor financeiro André Massaro concorda. “Na interação social, as pessoas buscam assunto fazendo críticas para evitar o vazio da comunicação. O indivíduo mal se interessa pelas próprias finanças, não entende nada de economia e dá opinião sobre tudo. É o ambiente perfeito para a propagação do alarmismo”, pontua. “Culpa pessoas e instituições erradas, associa-se fatos que têm pouca relação. É um poço de vieses.”

Erro 6: Sua opinião não muda nada

Engana-se quem acha que a opinião de uns e outros não muda o curso da economia. Um dos movimentos mais conhecidos do mercado de capitais é o efeito de manada. Este é um dos principais traços do comportamento humano – o ímpeto pela camuflagem dentro de grupos. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, trabalha no mercado de capitais há anos e garante. “Não tem nada de racional nos movimentos da bolsa”, diz.

As grandes altas ou grandes baixas da bolsa não representam uma reação à condição econômica, mas principalmente a personificação dos investidores em uma única intenção: o benefício próprio. “Se dependesse da bolsa, era melhor que tivesse alta da gasolina todos os dias, por exemplo. Mas isso não é bom para todo mundo”, explica o economista.

A percepção, em massa, pode mudar o destino – quem garante, é o próprio pesquisador, David Leiser. “A avaliação negativa em massa afeta a confiança nas instituições e recuo de expectativas, o que transforma as atitudes cotidianas do cidadão comum, que reduz as compras, recolhe os investimentos, entre outros.”

Fonte: IG