Como maximizar a produção de alimentos e evitar o desperdício na cadeia de suprimentos em um momento em que as mudanças climáticas e o crescimento da população global estão colocando uma pressão cada vez maior sobre os recursos?
De acordo com a startup israelense Blue Circle, é possível fazer isso da mesma forma que protegemos nossas tecnologias contra hackers: com inteligência artificial, machine learning e enormes quantidades de dados.
Essa abordagem baseada em dados, segundo a empresa, ajuda a reduzir em cerca de 30% os alimentos desperdiçados em todo o mundo todos os anos ao longo da cadeia de produção – uma estatística corroborada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A FAO afirma que há cerca de 870 milhões de pessoas no planeta que não têm o suficiente para comer, e a redução do desperdício de alimentos em apenas um quarto acabaria com a fome global.
O CEO da Blue Circle, Ilai Englard, disse ao portal NoCamels que a empresa pretende se basear nas práticas agrícolas existentes, usando de uma tecnologia sofisticada para ajudar a entender melhor a situação no local e como a cadeia de suprimentos pode ser otimizada.
“Temos uma cadeia [de suprimentos] extremamente complexa, e é impossível para um ser humano entender o que está acontecendo em toda a rede, o tempo todo”, explica Englard.
“Analisamos toda a cadeia de valor, desde o clima e o meio ambiente até o consumidor e tudo o que está entre eles”, afirma. “A colheita, a produção, o estoque, as vendas e a distribuição, tudo isso – de ponta a ponta.”
Além dessas informações, há toda uma pesquisa científica disponível sobre uma determinada cultura, incluindo dados meteorológicos e climáticos, informações sobre doenças e pragas, além de preços e estoques.
E então, explica Englard, todas essas informações são inseridas na plataforma de IA especialmente criada pela empresa, que as utiliza para fornecer insights sobre uma cultura específica. Isso ajuda os agricultores a entender melhor o que está acontecendo no campo e se os diversos fatores que influenciam a produção agrícola estão todos no caminho certo.
A empresa sediada em Tel Aviv foi fundada em 2018, com o apoio de venture capitals e investidores privados. E com uma abordagem tão forense do processo de produção de alimentos, não é de se surpreender que os criadores tenham experiência em tecnologia de defesa, já que vieram da renomada unidade 8200 das Forças de Defesa de Israel.
Essa profunda experiência em processos digitais e o foco holístico na cadeia de suprimento de alimentos são o que diferencia a Blue Circle, diz Englard, em vez de se concentrar em questões individuais, como irrigação ou controle de pragas, como muitas outras empresas do ramo.
“A cadeia é muito, muito complexa”, diz ele. “Portanto, é preciso entender – para causar um verdadeiro impacto, é preciso entendê-la por um todo.”
Englard dá o exemplo da indústria de vinhos, cujos longos anos de registros meticulosos a tornam “ideal” para a plataforma Blue Circle.
“Esta indústria tem décadas de dados muito ricos”, diz ele. “Eles sabem exatamente o que aconteceu nos vinhedos e o que plantaram; como trataram cada uma das vinhas ao longo dos anos, quando colheram e qual era o perfil da uva.”
Esse método focado em dados abrange todas as etapas do processo vitivinícola, o que, segundo ele, permitirá à Blue Circle ajudar a aumentar a flexibilidade em toda a cadeia de produção, permitindo que as vinícolas melhorem a eficiência, a qualidade e a lucratividade, além de conservar recursos.
Ele cita o exemplo das vinícolas de Napa Valley, uma área da Califórnia famosa por seus vinhedos, onde um período de pouca chuva e temperaturas ligeiramente mais baixas levou a plataforma a prever uma estação de cultivo mais longa, o que, por sua vez, significou um maior risco de perda de rendimento devido a doenças. Isso permitiu que as vinícolas se preparassem para esses resultados.
A empresa trabalha com vários vinhedos em Israel e no exterior, incluindo algumas das maiores vinícolas do mundo, à medida que gerenciam os desafios atuais e se preparam para os desafios futuros devido às mudanças climáticas. E quer expandir seu alcance para o mundo da produção de alimentos.
“A inteligência básica do nosso sistema é algo que queremos tornar acessível a todos – esta é a nossa visão”, diz Englard.
Fonte: Israel Trade
Foto: Sarah Chai