Segundo o presidente do BC, o ‘BC está aparelhado para manter a estabilidade monetária à frente. Em havendo alguma ou outra distorção, vamos trabalhar para corrigi-la’
SÃO PAULO – Em evento em São Paulo nesta terça-feira, 6, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reforçou o objetivo de trazer a inflação para dentro da meta do governo, de 4,5%, com dois pontos de tolerância, para cima ou para baixo. Segundo Tombini, o BC está atuando desde abril do ano passado num processo de alta de juros que já elevou a Selic em 3,75 pontos. “Temos trabalhado para a inflação permanecer sob controle, com convergência à meta”, destacou.
Nesta semana, o relatório Focus apontou que analistas esperam que a inflação encerre 2014 em 6,5%, o teto da meta do governo. Há duas semanas, porém, as previsões ultrapassaram a meta, ficando em 6,51%.
Tombini ressaltou que o “BC está aparelhado para manter a estabilidade monetária à frente”, como já vem desempenhando. “Em havendo alguma ou outra distorção, vamos trabalhar para corrigi-la”, destacou.
Ele lembrou que na política monetária os “impactos são cumulativos e têm defasagens até tocar de forma mais visível na inflação.” “Temos que perseverar nosso trabalho de assegurar a estabilidade”, destacou o presidente do BC.
O presidente do BC diz que tem visto “algum progresso” e que a inflação deve continuar recuando. “Estamos trabalhando para trazer a inflação para um nível mais baixo”, alegou. Ele foi perguntado se a inflação não estaria elevada demais, pois aparentemente o teto de 6,5% teria se tornado a meta. Tombini foi enfático em sua resposta. “Não há nada que nos leve a ter uma inflação no Brasil no teto da meta”, disse. “Não há nenhuma predestinação a termos inflação mais alta que o centro da meta”, ponderou. Ele explicou que a política monetária tem enfrentado desafios, como um mudança de preços relativos e o choque de alimentos.
Os comentários foram feitos em evento que celebra os 55 anos da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, que ocorre em São Paulo.
Transição da economia. Tombini afirmou que o Brasil se preparou para o período de transição de economia que o mundo vive atualmente. “A mensagem que gostaria de passar deste momento de transição da economia mundial é que o Brasil se preparou para esse período. Temos uma posição forte e capacidade de navegar nesse período de transição de forma segura”, disse.
Tombini reforçou que o País está preparado para enfrentar os desafios impostos pela economia global e “temos vários indicadores que atestam isso”. Segundo Tombini, em momentos de maiores desafios na economia é preciso ter uma autoridade monetária “supervisora e firme”, que permite que os empresários desempenhem seus negócios em um cenário de estabilidade.
Segundo Tombini, o Banco Central do Brasil foi um dos primeiros a dizer que a recuperação dos Estados Unidos é um aspecto que deve ser encarado de forma positiva. “Uma transição como essa encerra alguns desafios, como a normalização das condições monetárias e financeiras”, afirmou. O presidente do BC lembrou o debate do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) em 22 de maio do ano passado que “foi uma discussão importante sobre o início do tapering (redução dos estímulos monetários)”. “Tivemos uma amostra importante, que foi a discussão de novos estímulos monetários e financeiros naquela economia”, afirmou.
Segundo ele, a redução de estímulos e a redução de compra de ativos por parte do Fed gerou todo tipo de desdobramentos. “Vimos um processo que sucedeu um período de alta volatilidade. E agora temos um período de transição e temos que lidar com os riscos de transição.”
Exportações. Tombini afirmou que as economias do Brasil e da China intensificaram muito os seus laços nos últimos anos e que a economia brasileira é relativamente fechada. “As exportações brasileiras para a China compõem cerca de 17% do total, isso representa menos de 2% do PIB brasileiro”, disse.
Segundo Tombini, a China é um ponto de observação importante, pois cresce em torno de 7% a 7,5% e vive uma transição interna do lado da oferta, “para uma economia com mais ênfase no consumo”. “A China crescendo 7% hoje contribui mais com o crescimento mundial do que no início deste século, quando crescia 10%”, afirmou. “Isso é uma boa notícia.”
O quadro internacional de uma forma geral, segundo Tombini, é liquidamente positivo, pois a economia global vai crescer no futuro e haverá mais comércio internacional. “Há perspectiva de que o comércio internacional crescerá em torno de 4% neste ano e de 5,5% em 2015”, afirmou.
Tombini argumentou que o Brasil tem uma capacidade de enfrentamento neste cenário, pois acumulou, nos últimos dez anos, um colchão de liquidez de US$ 378 bilhões. “E temos liquidez em moeda local, em depósito compulsório, na faixa de R$ 400 bilhões.” Segundo ele, as reservas foram estratégias adotadas pelo País “não só para aproveitar os bons tempos, mas para se preparar para os tempos mais difíceis”.
Fonte: O Estado de São Paulo