Startup israelense usa inteligência artificial para poupar água

Criada em 2009, a startup TaKaDu foi apelidada de “Ninja d’Água” pela agência de notícias Bloomberg, em reportagem publicada em janeiro. A alcunha não tem a ver com nacionalidade da empresa — que é israelense — mas com sua capacidade surpreendente de gerar economia de água a partir de um complexo algoritmo matemático, transformado em software por Amir Peleg, fundador e CEO do TaKaDu. Peleg esteve no Brasil durante a semana passada para prospectar novos clientes e, também, para encontros de relacionamento. Em janeiro do ano passado, a empresa fechou contrato com a Aegea Saneamento, holding privada de água e saneamento com atuação em 37 municípios de oito estados brasileiros.

“A privatização é uma grande vantagem do mercado brasileiro”, afirma Peleg, um “empreendedor em série” que, antes da TaKaDu, fundou outras duas empresas. A segunda delas — a YaData — foi vendida sete anos atrás para a Microsoft por uma soma não revelada (na época, especulou-se que o valor da operação poderia ser de US$ 30 milhões). “O Brasil é um país muito grande e com problemas hídricos. Tem um potencial imenso”, avalia ele. Formado em matemática, computação e física, o empresário estava muito longe de ser um especialista em água antes de iniciar sua mais nova startup. Começou a pesquisar sobre o tema e descobriu que as tubulações de distribuição de água são, em muitas cidades, dotadas de sensores que medem a vazão, a pressão e a qualidade do líquido, entre outras variáveis. “O sistema gerava uma grande quantidade de dados brutos e não havia forma de aproveitá-los”, conta o presidente da TaKaDu. A partir dessas informações, Peleg montou um software que permite às empresas identificar pontos de vazamento na rede e, até, prever (e evitar) rompimentos na tubulação. Um dos principais objetivos é a recuperação de perdas d’água. Em Queensland, na Austrália, por exemplo, a companhia Unitywater obteve uma economia de um bilhão de litros d’água ao longo de um ano, informa a startup israelense. O volume de líquido equivale a dois milhões de dólares australianos (cerca de R$ 5 milhões).

Nem mesmo a perspectiva de baixo crescimento econômico em 2015 é suficiente para afastar a TaKaDu do mercado brasileiro. “Nos próximos dois anos, a economia não vai crescer tanto. Com a redução do capex (investimento), as empresas vão precisar de mais eficiência”, acredita Peter Cheung, CEO da empresa Optimale, parceira comercial da TaKaDu no Brasil.

Hoje, a startup está presente em oito mercados: Brasil, Israel, Austrália, Espanha, Portugal, Reino Unido, Holanda e Chile. E a expectativa de Peleg é que mais mais “dois ou três” países sejam incluídos na lista ainda este ano. No Brasil, a empresa iniciou as operações pelas concessionárias Água Gariroba (em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul) e Prolagos (na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro), ambas pertencentes à Aegea.

As enormes quantidades de dados geradas pelos sistemas de distribuição de água são analisadas por servidores hospedados na nuvem computacional, o que permite à TaKaDu oferecer o serviço sem instalar seu software de inteligência artificial nos PCs do cliente. A infraestrutura utilizada é a da Amazon Web Services.

Mesmo com tanta tecnologia de ponta à disposição, como otimizar a distribuição de água em redes que estão muito longe do padrão desejável? No próximo dia 22 será comemorado o Dia Mundial da Água, mas no Brasil ainda há muito o que avançar: 37% da água tratada é desperdiçada, devido a vazamentos, roubo ou mau uso. “Você não pode solucionar tudo com a tecnologia”, admite Peleg, referindo-se à precariedade de algumas redes. “Mas, também, não precisa resolver todos os problemas de uma só vez”. Ao renovar suas tubulações, as empresas podem — argumenta ele — instalar sensores e outros equipamentos. Os dados captados serviriam para orientar investimentos futuros, priorizando áreas ou clientes mais importantes para a companhia.

Fonte: Brasil Econômico