Uma startup israelense encontrou uma forma de mapear o sabor de cada alimento – os seus níveis de doçura, salgado e até de acidez – com o objetivo de criar a refeição perfeita, adaptada às suas papilas gustativas.
A MAMAY Technologies usa um algoritmo alimentado por IA capaz de determinar o sabor “objetivo” de um alimento ou bebida – e planeja expandi-lo para avaliar todos os gostos, a fim de criar refeições com o equilíbrio certo de sabores.
O princípio básico por trás deste mapeamento “é ciência pura”, disse o fundador e CEO da MAMAY, Yuval Klein, ao portal NoCamels.
Moléculas de diferentes alimentos e bebidas são analisadas em laboratório para 75 tipos diferentes de adoçantes, como sacarose e frutose.
O processo de laboratório é baseado em cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), um processo químico que separa todos os componentes de uma mistura e depois os identifica e quantifica.
Com a ajuda da IA, a massa de dados produzida através do HPLC é transformada num “perfil de doçura”, baseado na quantidade de cada adoçante – natural e artificial – presente nas moléculas.
“Fizemos o mesmo com a acidez, o amargor, o salgado, o umami”, diz Klein. “É assim que sabemos como digitalizar de fato toda a gama de sensações em relação a alimentos e bebidas.”
Os resultados são então colocados na escala Taste GAGE, própria da MAMAY, que dá um número (chamado de “val”) a cada nível de doçura, salgado e assim por diante dependendo de seu impacto.
Klein conta que o teste de laboratório até os levou a entender por que a Coca Cola tem o gosto diferente em países diferentes.
“Descobrimos que não são os mesmos açúcares”, diz ele. “E descobrimos que não é a mesma doçura. A Coca Cola na Espanha tem 35 de doçura [na escala GAGE] e a Coca Cola no Japão tem 31 – o que é uma grande diferença.”
Klein é um empreendedor em série, com décadas de trabalho com startups. Sua incursão mais recente em FoodTech antes da MAMAY foi com uma empresa chamada Blue Tree, que reduz o teor de açúcar nos alimentos ao mesmo tempo em que deixa o sabor intacto. Segundo ele, criou essa startup antes mesmo de Israel ter um setor de FoodTech.
Sua visão para a criação da MAMAY foi consequência de uma experiência quando jovem, diz ele. Quando tinha 16 anos, logo após a Guerra dos Seis Dias de 1967, Klein acompanhou seu pai a Jerusalém, onde tomaram uma bebida chamada Rosetta.
“Esta é a minha melhor lembrança de Jerusalém”, diz Klein, explicando que seus esforços há cerca de oito anos para recriar a bebida e quantificar seus componentes gustativos o levaram a criar a MAMAY. “Comecei a pensar que o sabor precisa ser quantificado”, diz ele. “Doçura de 20 e amargor de 4, e eu tenho a minha Rosetta.”
Klein afirma que há outras empresas tentando quantificar a “sensação” dos alimentos, mas insiste que não há nenhuma outra empresa que decomponha os alimentos pelo sabor usando inteligência artificial para processar os dados da mesma forma que a MAMAY.
Por enquanto, a empresa está focada em um futuro business to business (B2B). Em Israel, têm trabalhado com o gigante dos alimentos Strauss Group em “alguns projetos sobre os quais não posso falar muito”. Klein conta que a MAMAY também está colaborando com a Tempo, a principal empresa de bebidas de Israel, onde “pela primeira vez estamos definindo o sabor”.
A MAMAY está sediada em Kiryat Shmona – uma cidade no extremo norte de Israel, ao longo da fronteira com o Líbano. A cidade se tornou um centro para startups de FoodTech, em grande parte devido aos esforços do importante empreendedor israelense Erel Margalit, que estabeleceu ali sua Startup City Galilee com foco neste setor.
Klein trabalhou anteriormente com a MAMAY na China em 2019, com grandes players da indústria suinícola local. Mas, diz ele, teve de voltar a Israel quando a peste suína africana varreu o país, dizimando a indústria e levando à falência seus apoiantes.
Ele agora planeja retornar à China para trabalhar com empresas de alimentos que utilizam sistemas automatizados para produzir alimentos em massa para crianças em idade escolar. E a tecnologia da MAMAY para quantificar os sabores dos alimentos permitirá criar pratos individuais com base nas preferências individuais.
Cada pessoa terá um registro computadorizado de suas preferências usando a escala Gage para doçura, salgado e assim por diante, e esse registro informará aos robôs que preparam a comida como personalizá-la para cada gosto.
“Quando um robô faz macarrão, podemos fazê-lo de formas diferentes – menos picante, mais picante”, segundo Klein. “E toda criança deveria consumir aquele que gosta.”
A comida personalizada é o futuro, diz ele, e a tecnologia da MAMAY nos permitirá determinar exatamente qual é o sabor das coisas.
“Você poderá imprimir comida; você precisa interagir com a máquina para saber o quão saborosa você quer que essa comida seja”, diz ele. “E acho que estamos dando os primeiros passos para esse futuro.”
Foto: Pineapple Supply Co.
Fonte: Israel Trade