Por que o Brasil se tornou o maior mercado de uma firma de segurança de Israel

Uma tecnologia criada para localizar rapidamente pilotos israelenses cujos caças foram abatidos ou forçados a pousar em ambientes hostis, antes mesmo da popularização do GPS, está no DNA de uma aplicação civil responsável pela recuperação de cerca de cem mil carros roubados no Brasil nos últimos anos.

Negociada na Nasdaq, a Ituran Location and Control (ITRN) é uma companhia de tecnologia de segurança liderada por veteranos do IDF (Forças de Defesa de Israel), que encontrou no Brasil o seu maior mercado global. A empresa já implantou rastreadores veiculares em 700 mil veículos no país. A empresa faturou no ano passado US$ 271 milhões (R$ 1,3 bilhão) globalmente.

Segundo projeções da área de equity research do Barclays, instituição bancária britânica, a Ituran deve alcançar US$ 297 milhões em receitas globais neste ano e US$ 327 milhões em 2023. No Brasil, a popularização dos rastreadores veiculares de tecnologia israelense ocorreu em um mercado em que 70% dos proprietários de carros não têm seguro contratado, segundo o CEO da empresa no país, o israelense Amit Louzon.

“Quando você fala que é tecnologia israelense, as pessoas têm respeito. Quando chegamos ao Brasil há 22 anos, nosso primeiro mercado fora de Israel, a nossa aposta foi que a nossa tecnologia poderia preencher esse espaço [do elevado contingente de donos de carro sem seguro contratado], mas isso tem mudado”, disse Louzon em entrevista à Bloomberg Línea.

Uma parte das receitas hoje vem da instalação de equipamentos para carros com apólice de seguro, um reflexo do estágio da segurança pública no país. “Com a tecnologia da telemetria, seguradoras podem oferecer uma apólice mais acessível, pois conseguem diminuir o seu risco”, afirma o CEO.

O crescimento das receitas globais previsto pela companhia está fundamentado na diversificação do modelo. A Ituran já atua na gestão de frotas de terceiros (com 150 mil veículos no Brasil), produzindo dados para tomada de decisão e planejamento de custos e está construindo parcerias com montadoras para que os carros já tenham equipamento de rastreamento de fábrica, além dos modelos compartilhados. Os nomes das companhias do setor automotivo não são divulgados por acordo de confidencialidade.

“São parcerias estratégicas porque as montadoras também estão diversificando para novos serviços, como locação ou carros por assinatura. Nossa base B2B cresceu cinco vezes nos últimos três anos e, em 2022, vamos crescer mais 30% porque a demanda para carro conectado é crescente”, afirmou Louzon.

AS LIGAÇÕES COM O EXÉRCITO ISRAELENSE: A Ituran foi criada nos anos 1990 em Israel a partir do desenvolvimento da aplicação civil de tecnologia desenvolvida para militares. Em um país com altos gastos de defesa, o Exército acabou se tornando, na prática, um acelerador de startups que fazem a transição do mundo da defesa para o uso civil. O fundador da empresa, Izzy Sheratzky, ficou mais conhecido fora do país como mecenas do esporte. Ele é o fundador e dono do Hapoel, time de futebol israelense.

As ligações com as Forças de Defesa de Israel estão nas trajetórias de muitos executivos e de integrantes do board da companhia. O presidente do conselho de administração é o general de brigada reformado Ze’ev Koren, um veterano das guerras travadas pelo país nos anos 1960 e 1970.

“A Ituran começou com tecnologia de radiofrequência que foi desenvolvida para recuperar pilotos de aviões abatidos em combate. O core foi baseado nessa tecnologia e depois desenvolvemos a aplicação civil, de localização do carro roubado. Em 1995 ninguém sabia o que era GPS ainda e a nossa empresa evoluiu com o tempo”, afirma Louson, o CEO do Brasil, ele próprio um major da reserva do Exército.
“De forma geral, o serviço militar ajuda as pessoas a pensar fora da caixa, a encontrar soluções rapidamente para questões urgentes. Quando você está em combate, precisa pensar muito rápido porque nem sempre você tem todos os recursos à disposição quando precisa”, disse.

Fonte: Bloomberg Línea

Foto: Divulgação