O engenheiro Diego Berger, da empresa nacional de abastecimento de Israel, a Mekorot, começa de forma bem-humorada uma apresentação de slides que mostra os feitos de seu país no gerenciamento de recursos hídricos. “O povo de Israel historicamente apresenta soluções inovadoras para os problemas da água”, afirma. Ele então exibe na tela uma ilustração da passagem bíblica em que Moisés tira água da pedra com um cajado. Na cena seguinte, outra imagem do Antigo Testamento: Moisés abre o Mar Vermelho. “Nas últimas décadas, porém, nossa tecnologia foi bastante aprimorada”, diz Berger. A plateia ri.
A empresa de Berger é um exemplo de boa gestão da água. O sistema de abastecimento da Mekorot no país tem duas redes distintas. A primeira leva água potável para o consumo das casas, dos escritórios e indústrias. A outra rede irriga as plantações com a água recolhida de esgotos e tratada. Cerca de 72% da água tem segundo uso. Trata-se de um índice de reúso sem par no mundo. O país mais próximo disso, a Espanha,recicla apenas 12% da água.
Os israelenses precisaram se adaptar a uma faixa de terra que no sul é desértica e no norte, a área mais úmida, apresenta índices de precipitação equivalentes aos da região semiárida no Brasil. Ainda assim, abastecem a população e exportam produtos agrícolas. A tecnologia para tratamento e reciclagem da água é vista pelos israelenses como uma vantagem no mundo globalizado. “Nossa vocação é virar a referência mundial no tema”, diz Booky Oren, coordenador da Watec, uma feira de tecnologias ligadas a tratamento de água que começará no mês de novembro. A feira pretende atrair milhares de visitantes. As duas centenas de empresas de água do país já exportaram US$ 900 milhões no ano passado. O setor tende a crescer com a crise global de água. E os israelenses são a maior referência mundial no assunto.
A ideia de promover as indústrias de água do país foi de Oded Distel, diretor de investimentos internacionais do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho. Em 2002, quando ele era adido comercial na Grécia, tentou vender uma instalação de tratamento de lixo para a ilha de Chipre. “Não ganhamos o contrato, mas compreendi claramente que não podíamos ficar fora daquele mercado”, diz. Ele conta que, na última década, Israel exportou empresas de segurança privada, explorando a imagem de eficiência do Mossad, o serviço de Inteligência do país. Agora o objetivo é fazer o mesmo marketing com a água. “É bem mais fácil de vender. Nosso sucesso com os recursos hídricos não tem lado negativo”, afirma Distel.
Israel entrou no mercado internacional de água no início dos anos 60, quando os fazendeiros desenvolveram um novo sistema de irrigação, por gotejamento. Em vez de despejar a água diretamente no solo, tubos de plástico com furos deixam passar, gota a gota, a quantidade mínima para o crescimento das plantas. Isso reduz a perda por evaporação e a salinização do solo. A técnica permitiu um uso mais eficiente da água. Hoje, mais de 80% da produção agrícola de Israel é exportada. E o país passou a vender a tecnologia de gotejamento. Estima-se que as empresas israelenses controlam metade do mercado mundial desse tipo de irrigação, que movimenta US$ 1,2 bilhão por ano. O orgulho mais recente dos israelenses é sua indústria de dessalinização da água do mar. Próxima à conflagrada Faixa de Gaza, a usina de Ashkelon, de US$ 250 milhões, foi inaugurada no fim de 2005, às margens do Mediterrâneo. Ela é a maior do mundo em seu gênero. Produz o suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de pessoas. A água captada no mar é injetada em alta pressão dentro de 40 mil tubos de plástico. No interior deles, um feixe de membranas, como as camadas de um palmito, extraem o sal da água. O líquido que sai do outro lado é tão puro que os técnicos precisam adicionar de volta alguns sais minerais que compõem a água potável comum.
O governo pretende instalar duas outras grandes usinas como essa. Hoje, as 31 usinas de dessalinização do país produzem 15% da água que a população consome. A meta é chegar a 40% nos próximos cinco anos. Com uma usina de dessalinização própria, o kibutz – uma espécie de fazenda coletiva – Ma’agan Mikhael, um dos mais ricos do país, situado no litoral, retira água salobra do subsolo arenoso. Com ela, produz morangos suculentos como os da Califórnia e cria carpas para exportação.
Embora representem o que existe de mais avançado em reciclagem de água, as tecnologias israelenses não podem ser vistas como solução para todos. Antes de pensar em dessalinizar água do mar, países como o Brasil podem investir em soluções mais simples, como reduzir o vazamento na rede de distribuição. A verdadeira lição de Israel foi ter enfrentado limitações de recursos naturais criando uma política de incentivo à inovação tecnológica. Israel investe 4,8% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, porcentual superior à de quase todos os países desenvolvidos.
A maior parte desse dinheiro é disputada por centros de pesquisas e incubadoras de empresas, para estimular a competitividade. O governo paga apenas 35% do orçamento do Instituto Weizmann, um dos principais centros de pesquisa do país. Os pesquisadores têm de buscar recursos na indústria ou em fundos privados. Isso gera pesquisas mais conectadas com a necessidade das empresas. E estimula pesquisadores e engenheiros a lançar seus produtos no mercado. No fim do ano passado, cerca de 108 pequenas empresas chegaram ao mercado com tecnologias inovadoras de água. Segundo o governo, investidores aplicaram US$ 1,2 bilhão em 2005 para capitalizar empresas do setor. Nos próximos três anos, o governo destinará US$ 2,2 milhões para incubar ainda mais negócios na área.
As empresas geram produtos que chamam a atenção no mercado internacional. Um deles é um depurador industrial de água que mata os microrganismos usando raios ultravioleta. O processo, recentemente patenteado por um grupo de pesquisadores da empresa Atlantium, chegou ao mercado em 2006. No início do ano, a companhia foi apontada pela revista de negócios e tecnologia americana Red Herring como uma das cem mais promissoras do mundo. Eles têm em quem se mirar.
Há duas décadas, um grupo de engenheiros do kibutz Amiad desenvolveu um filtro com cartuchos revestidos de membranas de tecido sintético que é autolimpante. A tecnologia hoje sustenta uma empresa que exporta filtros de US$ 30 mil para agricultores na Austrália e fatura cerca de US$ 40 milhões por ano. Para o Brasil, que tem a maior bacia hidrográfica do mundo, Israel serve como exemplo de país que constrói sua competitividade a partir não da abundância de recursos naturais, mas justamente de sua escassez.
Texto: Alexandre Mansur/Revista ÉpocaThe engineer Diego Berger, the national company supply Israel, Mekorot, get so good-humored a slideshow showing the achievements of your country in water resources management. “The people of Israel historically has innovative solutions to water problems,” he says. It then displays on the screen a picture of the biblical passage in which Moses draws water from stone with a stick. In the next scene, another image of the Old Testament: Moses opened the Red Sea. “In recent decades, however, our technology has been greatly improved,” says Berger. The audience laughs.
Berger’s company is an example of good water management. The supply system of the country Mekorot has two distinct networks. The first drinking water leads to the consumption of homes, offices and industries. The other network irrigate crops with water collected and treated sewage. About 72% of water has second use. This is an index of reuse without peer in the world. The closest this country, Spain, recycles only 12% of the water.
The Israelis had to adapt to a strip of land that is desert in the south and the north, the wettest area, presents indices of rainfall equivalent to the semiarid region in Brazil. Still, supplying the population and export agricultural products. The technology for the treatment and recycling of water is seen by Israelis as an advantage in the globalized world. “Our vocation is to become the worldwide reference in the subject,” says Booky Oren, coordinator of Watec, a fair of technologies related to water treatment that will begin in November. The fair aims to attract thousands of visitors. The two hundred water companies in the country has exported $ 900 million last year. The industry tends to grow with the global water crisis. And the Israelis are the largest global reference on the subject.
The idea of promoting the country’s water industry was Oded Distel, director of international investments of the Ministry of Industry, Trade and Labor. In 2002, when he was a commercial attache in Greece, tried to sell a waste treatment facility for the island of Cyprus. “We did not win the contract, but clearly understood that we could not stay out of that market,” he says. He says that in the last decade, Israel exported private security companies, exploring the image of efficiency of Mossad, the intelligence service of the country. Now the goal is to do the same with water marketing. “It’s much easier to sell. Our success with the water has no downside, “Distel said.
Israel entered the international market for water in the early ’60s, when farmers have developed a new irrigation system, drip. Instead of dumping water to the soil plastic tubes with holes let pass dropwise, the minimum quantity for the growth of plants. This reduces the loss by evaporation and salinization of the soil. The technique allowed a more efficient use of water. Today, over 80% of Israel’s agricultural production is exported. And the country went on to sell the technology of drip. It is estimated that Israeli companies control half the world market for this type of irrigation, which is a U.S. $ 1.2 billion per year. The latest Israeli pride is its industry desalination of seawater. Next to the embattled Gaza Strip, the Ashkelon plant, $ 250 million, was opened in late 2005 on the shores of the Mediterranean. She is the world’s largest of its kind. Produces enough to power a city of 1 million people. The water captured at sea is injected at high pressure into 40 thousand plastic tubes. Inside them, a bundle of membranes, such as a palm layers, extract the salt water. The liquid leaving the other side is so pure that technicians need to add back some minerals which form the common drinking water.
The government plans to install two other large plants like this. Today, the 31 desalination plants produce 15% of the country’s population consumes water. The goal is to reach 40% in the next five years. With a desalination plant itself, the kibbutz – a kind of collective farm – Ma’agan Mikhael, one of the richest in the country, situated on the coast, draws brackish sandy subsoil. With it produces juicy strawberries as California and creates carp for export.
Although they represent what is most advanced in water recycling, technologies Israelis can not be seen as a solution for everyone. Before thinking about desalinate seawater, countries like Brazil can invest in simpler solutions, such as reducing leakage in the distribution network. The real lesson of Israel was to have faced limitations of natural resources by creating a policy of encouraging technological innovation. Israel invests 4.8% of GDP in research and development, a percentage higher than in almost all developed countries.
Most of that money is disputed by research centers and business incubators to encourage competitiveness. The government pays only 35% of the budget of the Weizmann Institute, a leading research centers in the country. Researchers must seek resources in industry or in private funds. This research generates more connected with the need for companies. And encourages researchers and engineers to launch their products in the market. At the end of last year, about 108 small companies came to market with innovative water technologies. According to the government, investors applied $ 1.2 billion in 2005 to capitalize companies. Over the next three years, the government will allocate $ 2.2 million to incubate further business in the area.
Companies create products that draw on the international market. One is an industrial water purifier that kills microorganisms using ultraviolet rays. The process recently patented by a group of researchers from the company Atlantium, hit the market in 2006. Earlier this year, the company was appointed by the business magazine Red Herring and American technology as one of the hundred most promising in the world. They have on whom to target.
Two decades ago, a group of engineers at Kibbutz Amiad filter cartridges developed a membrane coated synthetic fabric that is self-cleaning. The technology currently supports a company that exports filters $ 30 thousand for farmers in Australia and earns about $ 40 million per year. For Brazil, which has the largest drainage basin in the world, Israel serves as an example of a country that builds its competitiveness not from the abundance of natural resources, but precisely of its scarcity.
Text: Alexandre Mansur / Journal Times