Reflexos de um ano de estudo com 100 crianças
(Dr. Alan Flashman no The Times of Israel, tradução de Junior Gibelli)
A Autoridade de Canabis Medicinal de Israel (IMCA) do Ministério da Saúde do país começou a considerar uma possível indicação formal do uso de canabis para o tratamento de autismo como resposta à pressão de um grupo de mães. A pedido da IMCA, o Dr. Alan Flashman assumiu o papel de indicar este tipo de tratamento a crianças. Um ano depois, o Dr. Flashman reflete sobre essa experiência com um grupo heterogêneo de cerca de cem crianças.
Segundo ele, o autismo pode ser visto como uma única entidade que se expressa de formas variadas ou diversas entidades com pontos em comum. No entanto, sua propensão científica segue esta última.
Após uns seis meses de estudo começou a se perguntar como interpretar as respostas dessas crianças à canabis. E depois de analisar dois padrões diferentes de comunicação entre os vários centros do cérebro, notou que a comunicação entre eles é irregular em crianças autistas, observando que o fluxo contínuo e sem impedimento é moderado pela relação entre dois “endocanabinoides” semelhantes ao THC e o CBD.
Esses fatos levaram-no à hipótese de que a proporção entre os endocanabinoides análogos ao THC/CBD pode ser problemática no autismo e que o tratamento com canabis pode ser uma maneira de corrigir, pelo menos parcialmente, essa proporção.
O tratamento de crianças autistas derivou do tratamento de epilepsias – duas mães do grupo mencionado acima receberam canabis medicinal para suas crianças com epilepsia que também eram autistas e ficaram surpresas ao perceberem efeitos positivos em ambas as síndromes.
As crianças recebem inicialmente uma dose gradualmente aumentada de um óleo que contém 30% de CBD e apenas 1% de THC. As doses são administradas duas ou três vezes por dia, cada uma delas fixadas entre 3 e 10 gotas. Cerca de 66% das crianças responderam favoravelmente a esta rotina. Elas ficaram mais presentes, apresentaram um melhor contato visual e escutaram mais atentamente.
Aquelas que sofriam ataques de raiva intensa – muitas vezes apresentando surtos de automutilação, violência contra terceiros ou ataques de choro intenso – pareciam simplesmente perder estes impulsos. Algumas apresentaram melhoria na fala, enquanto outras que ainda não falavam, passaram a desenvolver a habilidade.
Depois que uma dose “ideal” foi obtida com o óleo predominantemente rico em CBD, ou seja, quando deixamos de observar melhorias adicionais, apesar do aumento da dose, adicionamos algumas gotas de um óleo com mais THC do que CBD (6%:1,5%). O resultado foi que cerca da metade das crianças melhoraram um pouco mais. Aquelas que não obtiveram uma melhora extra com o THC voltaram a tomar apenas o óleo rico em CBD.
De acordo com o Dr. Flashman, os resultados foram surpreendentes. Desde seus dias na escola de medicina no início da década de 1970, quando teve seus primeiros contatos com o autismo, ele nunca viu um composto que funcionasse tão bem e com praticamente nenhum efeito colateral. A maioria dessas crianças tinha sido tratada com medicamentos antipsicóticos para aquietar os surtos de raiva (o resultado era frequentemente o oposto) ou estimulantes, para diminuir a falta de atenção (também com prevalência de efeitos opostos). Além disso, esses tratamentos apresentaram muitos efeitos colaterais, como excesso de peso (com antipsicóticos) e perda de peso descontrolada (com estimulantes).
“Comecei a pensar que tais surtos destrutivos eram em grande parte uma expressão de frustração com problemas no fluxo e organização das experiências internas (sentimentos e percepções) e externas (atividades). Isso poderia explicar como esses ataques simplesmente desapareceram à medida que o nível de frustração foi alterado através do equilíbrio entre estes dois canabinoides análogos ao CBD-THC no fluxo desses dois padrões”, afirma.
No que diz respeito aos outros 34% das crianças, em vários casos em que o óleo de CBD exacerbou o comportamento perturbado, a dose foi reduzida diluindo-a em azeite de oliva. A resposta à solução diluída não foi desfavorável, embora ainda não tenha sido alcançado um verdadeiro equilíbrio.
Em cerca da metade dos casos a adição de um óleo rico em THC ofereceu uma solução satisfatória após mediação com uma quantidade menor de CBD. Isso levou o Dr. Flashman a levantar a hipótese de que uma minoria de crianças autistas apresentam uma proporção irregular de THC:CBD que requer uma maior quantidade de THC do que CBD. Nestes casos, quando um equilíbrio na dosagem foi alcançado, as frustrações diminuíram, da mesma forma que aconteceu quando a dosagem ideal de óleo rico em CBD foi alcançada com a maioria das crianças.