Chamado Campus para Mães, programa compreende aulas para dar a mulheres em licença-maternidade impulso para abertura de suas próprias empresas.
Mulheres carregam recém-nascidos nos braços e distraem crianças mais velhas com bichos de pelúcia em colchões coloridos, tudo em uma sala de um arranha-céu de Tel Aviv repleta de carrinhos de bebê e pufes gigantes.
Não é lugar de brincadeira. É o local da primeira escola baby-friendly da Google para startups. Chamado Campus para Mães, o programa compreende uma série de nove aulas semanais desenvolvidas para dar a mulheres em licença-maternidade um impulso para a abertura de suas próprias empresas em um país cuja economia é dependente de inovação.
“O curso me ajudou a enxergar que é isso que eu sou”, disse Nira Sheleg, de 37 anos, mãe de dois filhos, que fundou a Wizer.me, uma empresa que oferece recursos para professores. “Eu sou uma empreendedora, não apenas uma mãe com uma ideia. Agora eu tenho um grupo de apoio e as mães ao redor de mim são incríveis”.
Desde que concluiu o curso, em julho passado, ela recrutou uma CEO e várias assessoras e planeja começar as vendas em breve. Seu mercado-alvo: os EUA.
As aulas – foram duas turmas até o momento — são desenvolvidas para enfrentar a escassez de mulheres empreendedoras em Israel, onde a tecnologia representa quase metade das exportações industriais. O setor contribui com cerca de um terço do crescimento econômico do país, o que torna a formação das equipes dessas empresas uma prioridade para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Contudo, apenas 9 por cento das startups de tecnologia ao redor de Tel Aviv são dirigidas por mulheres — mais ou menos o mesmo que no Vale do Silício.
“A maior falha que temos em relação ao talento na indústria tecnológica é a falta de mulheres empreendedoras e engenheiras”, disse o chefe de pesquisa e desenvolvimento da Google Israel, Yossi Matias, o executivo-sênior da empresa que trabalha com o projeto Campus para Mães. A Google Inc. realizará programas similares em Londres e em Cracóvia, na Polônia, disse ele.
Microempresa
Os funcionários de empresas de tecnologia em Israel respondem por menos de 10 por cento da força de trabalho total, segundo números de 2011 divulgados no site do Escritório Central de Estatísticas. Cerca de 7 por cento de todas as trabalhadoras estão empregadas no setor de tecnologia, contra 12 por cento dos homens.
Apenas 4 por cento do capital de risco global flui para startups fundadas por mulheres, segundo a Eva Ventures, um fundo de capital para microempresas dedicado à promoção do empreendedorismo feminino. Seu site usa números da Fundação Kauffman, uma fornecedora de subvenções educacionais e empresariais de Kansas City
A Eva Ventures começou a levantar fundos há alguns meses e espera fechar com US$ 30 milhões daqui a alguns meses antes de buscar candidatos nos quais investir, disse Michal Michaeli, fundadora e sócia-gerente do fundo, cujos três sócios-gerentes são mulheres.
“Nós sabemos que ter mais mulheres como fundadoras de startups enriqueceria o cenário vibrante, inovador e único da alta tecnologia israelense”, diz o site do fundo.
Segundo um relatório de 2013 da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, com sede em Paris, a porcentagem de mulheres que trabalham por conta própria em Israel ficou em 11º lugar, contando de baixo para cima, entre 38 países, em posição melhor que a da Alemanha e da França e logo atrás dos EUA. México e Grécia ocupam os lugares mais altos.
Estereótipos de gênero levaram Rebecca Rahmany, de 46 anos de idade, com dois filhos, a fundar uma startup para combatê-los. A Gangly Sisters Productions postou no YouTube uma série de animações em inglês para garotas pré-adolescentes chamada ‘Purple and Nine’, que visa a inspirá-las a explorar a tecnologia.
Não à programação
“Ninguém diz a uma garota que ela não pode ser uma estrela de cinema, mas dizem que ela não serve para ser programadora”, disse Rahmany, cuja equipe inclui seis fundadores, dois deles homens, além de tradutores, animadores e especialistas em produção de som remunerados. A maior parte do trabalho é de meio período e mais da metade dos contratados são mulheres.
Quanto às aulas do Campus para Mães, em que participam cerca de 50 mulheres, uma nova sessão começará em maio. Se a experiência de Sheleg serve de guia, mais startups surgirão.
“Uma vez que você está nessa comunidade de mães que fazem a mesma coisa que você, você não acha isso tudo tão extraordinário”, disse ela.
Fonte: Exame