Israelense SeeTree levanta US$ 17,5 milhões em nova rodada, com Brasil no foco

A Startup isralense SeeTree acaba de fechar mais uma rodada de financiamento. Com aportes liderados pelo fundo de asset management do HSBC e pelo EBRD (Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento), a companhia levantou US$ 17,5 milhões em uma rodada do tipo série C.

A empresa, que atua com drones, satélites e estudos de campo para coletar dados e gerar para produtores, em um software, os melhores insights para o manejo das culturas de árvores, vai usar os recursos em duas frentes principais.

Em entrevista ao AgFeed, o CEO e cofundador da empresa, Israel Talpaz, explicou que a empresa focará tanto nos clientes atuais como na conquista de novos mercados. Atualmente, metade dos clientes estão em terras brasileiras.

Na expansão, a SeeTree mira aumentar seu tamanho em terras nacionais e também conquistar outros países e culturas. “Queremos atuar em todas as culturas de árvores, incluindo florestas”, disse o CEO. Atualmente, a empresa trabalha em sete países, com sete culturas diferentes.

No Brasil, o projeto que mais chama a atenção é com a Citrosuco, mas Talpaz já adiantou que a empresa está indo além.

Ele comentou, sem citar nomes, que assinou contratos com três grandes produtoras de óleo de palma na região de Belém, no Pará. “Temos um projeto para cobrir todas as terras dessas empresas e otimizar essas árvores”.

Por aqui, a empresa também quer focar em ganhar o mercado de eucaliptos, cultura que já atende na África do Sul, mas no Brasil ainda não.

No que diz respeito à clientela atual, Talpaz disse que a ideia é “ir mais profundo” nos serviços, algo que o executivo chamou de “fase 2 da jornada de otimização”.

Otimização é uma palavra-chave para Israel Talpaz, que conversou com o AgFeed diretamente da sede da empresa, em Israel.

O objetivo dessa nova fase é maximizar a produtividade e reduzir custos. “Não é possível fazer isso nos primeiros estágios, leva tempo, anos. Precisamos coletar dados primeiro”, afirmou.

Na prática, a empresa quer pegar todo conhecimento e dados coletados nos últimos anos e aumentar a “otimização” da plantação.

Na Citrosuco esse processo já começou. Agora, nos laranjais da empresa, os times que trabalham no campo estão sempre com um celular na mão. Via mobile, eles coletam dados e enviam para o sistema em tempo real, com rastreabilidade e monitoramento. Além disso, toda máquina das fazendas está integrada ao sistema e igualmente monitorada.

“Quando temos dados do campo, contando com os dados capturados via drones e satélite, combinados com dados agrícolas, damos foco ao rendimento em si, e podemos otimizar os insights”, disse.

O Brasil é tratado como “número um”, para o CEO. A empresa também atua nos EUA, México, África, Ásia e na Europa, mas o Brasil é o principal mercado já há alguns anos. “Os primeiros passos que damos são sempre no Brasil”.

Dessa forma, os novos clientes da empresa entram na chamada fase um, onde existe, primeiro, uma coleta de dados. Após anos de informações coletadas, a fase dois entra em cena, com toda a fazenda e os trabalhadores atuando em conjunto com o sistema ofertado pela SeeTree.

“É muito empolgante ver os trabalhadores no campo operando com os celulares, fazendo upload de dados, usando os dados como se fosse um Waze. Eles usam isso para reportar, para navegar, monitorar, sem contar os drones, imagens de satélite e outros dados”, explica.

Os primeiros frutos dessa fase dois já estão sendo colhidos. Segundo Talpaz, na Citrosuco, a empresa já conseguiu eliminar alguns custos com químicos em até 20%.

Ele explica que, com os dados otimizados, além da redução do uso de produtos para tratar de alguma doença, a necessidade de mobilizar pessoal diminui, o que transforma “problemas grandes em pequenos”.

“Estamos expandindo para novos países e novas culturas e indo mais profundo com os clientes atuais. É por isso que recebemos o investimento”, disse Talpaz.

Na rodada, além dos líderes, a empresa recebeu aportes da Smart Agro, um fundo israelense de agtechs, e do OurCrowd, fundo com sedes nos EUA e em Israel.

Além deles, investidores antigos da empresa repetiram a dose: a Mindset Ventures, gestora de venture capital brasileira que investe em empresas de tecnologia americanas e israelenses, a Netafim, líder global do mercado de irrigação, e a própria Citrosuco.

Ao todo, a empresa já recebeu US$ 64 milhões em aportes, de acordo com o CEO. Talpaz explicou que o HSBC resolveu aportar na empresa pois seu fundo de investimento tem foco em dois temas que perpassam a SeeTree: segurança alimentar e mudanças climáticas.

O EBRD, que coliderou a rodada, aposta em iniciativas que abarquem a Europa. A empresa tem uma participação mais discreta no continente, com uma subsidiária na Ucrânia. Além disso, o CEO revelou que “está com novos projetos por lá”.

Israel Talpaz criou a SeeTree em 2017 juntamente com o atual CTO, Guy Morgenstern. Antes disso, passou cerca de 30 anos no exército israelense. A história é comum no país, que, pela dificuldade de recursos naturais e com uma população não tão volumosa, acaba investindo em tecnologia para solucionar problemas.

O próprio Waze nasceu de uma história parecida: um ex-militar que trabalhava no serviço de inteligência local saiu do exército e aproveitou a tecnologia para outra funcionalidade no mundo civil.

No caso do CEO da SeeTree, as décadas no exército foram transformadoras. Ele conta que viu, em tempo real, a transformação no mundo da inteligência, que teve suas tecnologias passando do analógico para o digital.

“Todos os serviços de inteligência ao redor do mundo passaram por isso, mas nós fomos pioneiros. Quando me aposentei do exército, há 7 anos atrás, queria trazer essa tecnologia para a agricultura, onde está o background da minha família”, disse.

Ele decidiu atuar com as chamadas culturas permanentes, ou seja, as árvores, pois não via muitas tecnologias usadas nesse segmento.

“Árvores são bem complexas e mais similares à seres humanos do que em outras culturas, o que torna mais valioso focar nas árvores e otimizar a performance. A maneira para fazer isso era o uso de dados”, completou.