Um dos projetos de mobilidade urbana de maior visibilidade no Brasil nos últimos anos, o BRT (Bus Rapid Transit) do Rio de Janeiro é um dos legados da Olimpíada realizada em 2016.
As 125 estações espalhadas por 120 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus deram aos cariocas meios inéditos de cruzar a cidade.
Apesar disso, os sucessivos choques econômicos enfrentados pelo Rio depois da Olimpíada, somados à instabilidade política local, provocaram o sucateamento de parte dessa infraestrutura. Nos últimos anos, algumas estações deixaram de receber ônibus e foram alvo de vandalismo.
Não há solução fácil para um sistema de transporte do qual dependem boa parte dos mais de 13 milhões de moradores do Rio e da Baixada Fluminense.
O que faz a Optibus
Para o israelense Amos Haggiag, boa parte dos problemas de sistemas de transporte pode ser resolvida com um olhar atento à montanha de dados gerados por uma operação desse porte.
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Haggiag é fundador da Optibus, empresa de tecnologia aberta em Tel Aviv em 2014 para colocar a inteligência artificial a serviço de uma tomada de decisão mais racional (e menos intuitiva) em questões críticas de uma operadora de ônibus, como:
- O trajeto com mais chance de atrair passageiros — A frequência ideal para evitar viagens muito lotadas ou vazias
- As fontes de combustível mais econômicas e com menos emissão de poluentes
- Os caminhos menos congestionados e com maiores chances de garantir a pontualidade do serviço
O negócio da Optibus é um SaaS voltado a gestores públicos e de empresas de transporte público com painéis para acompanhar centenas de indicadores úteis aos desafios elencados acima — e dar pistas do jeito com melhor custo-benefício para resolvê-los.
“Companhias de ônibus ao redor do mundo ainda estão acostumadas a usar planilhas Excel para acompanhar essas informações e tomam decisões de forma manual”, diz Haggiag, formado em ciência da computação e matemática e fundador da Optibus após quase uma década de trabalho com algoritmos nas multinacionais Siemens e Microsoft.
O sistema criado por Haggiag rastreia todo tipo de dado sobre a operação de uma empresa de transporte antes disperso em inúmeras planilhas. E, ainda, monitora GPS e outros dados de sensores instalados nos ônibus para chegar a conclusões úteis ao gestor da operação.
Onde está a empresa
Atualmente, 2.000 cidades no mundo adotam o software da Optibus. O Rio de Janeiro, com o BRT, é o mais novo cliente da empresa israelense no Brasil.
Em alguns locais, como em Kampala, capital de Uganda, o software da Optibus foi utilizado para começar do zero a operação de 3.000 ônibus — o primeiro transporte público numa cidade de 1,5 milhão de habitantes.
Em outros, como na cidade gaúcha de Viamão, na Grande Porto Alegre, o uso da ferramenta acelerou a tomada de decisões como a mudança de horário de partida de uma determinada linha de ônibus. O que antes costumava levar semanas, agora pode ser resolvido em questão de dias.
No Rio de Janeiro, a Optibus foi contratada pela MOBI-Rio, empresa de transporte municipal administradora do BRT, para dar suporte de dados no trabalho de melhoria da infraestrutura existente e na expansão da rede.
Com as obras do corredor TransBrasil, previstas para terminarem no ano que vem, o BRT carioca deve ganhar 32 quilômetros. Mais 540 ônibus estão previstos para o sistema até 2024.
Os algoritmos da Optibus deverão auxiliar os gestores do BRT em questões como a frequência das viagens, em particular durante eventos especiais realizados na cidade, como Carnaval, Réveillon e Rock in Rio.
Além do Rio e do Rio Grande do Sul, no Brasil a Optibus tem negócios em cidades de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Distrito Federal.
Quem já investiu no negócio
“Assim como outros países em desenvolvimento, o Brasil tem uma porção de oportunidades de melhoria no transporte público“, diz Haggiag. “Por isso, está no centro da nossa estratégia.”
Além de chamar a atenção de gestores públicos e empresas de transporte, a empresa de Haggiag atraiu investidores.
Em maio, a Optibus levantou 100 milhões de dólares numa Série D com a participação de nomes de peso como o venture capital do grupo chinês Tencent.
A rodada avaliou a empresa em 1,3 bilhão de dólares, tornando a Optibus o primeiro unicórnio voltado ao setor do transporte público.
Em oito anos de operação, a empresa já levantou 260 milhões de dólares em investimentos.
Fonte: Exame – Foto: Divulgação