Fundador da Vox Capital explica como aliar retorno financeiro e impacto social

danielizzo

O Brasil já está se espelhando em Israel,  o país que tem mais start ups de tecnologia e profissionais de pesquisa e desenvolvimento do que qualquer outro no mundo,  e que agora começa a voltar seus olhos para os investimentos de impacto.

Insatisfeito com as soluções dos negócios tradicionais e das organizações não governamentais, o administrador de empresas Daniel Izzo fundou em 2009, juntamente com Antônio Moraes Neto e Kelly Michel, a Vox Capital, uma gestora de fundos de investimentos direcionados a empresas que desenvolvem trabalhos destinados à população de baixa renda. Em entrevista à Câmara Brasil Israel, ele nos conta como é possível aliar o retorno financeiro com impacto social.

Você poderia explicar o que são negócios de impacto e como surgiu a Vox?

A Vox Capital é uma empresa de capital empreendedor que investe em negócios inovadores e de alto impacto que servem a população de baixa renda brasileira, com soluções que ajudam a melhorar suas vidas. Oferecemos capital e apoio à gestão de empresas nascentes, inovadoras e com alto potencial de crescimento, que buscam gerar valor à sociedade através de retorno financeiro atrativo e impacto social positivo. Basicamente investimos em negócios que: resolvam um problema real entregando soluções abrangentes e acessíveis, atendam às necessidades das pessoas das classes C, D e E com ofertas de qualidade, que tenham potencial de lucro e retorno financeiro e que causem uma mudança  social positiva.

Quais foram os principais desafios encontrados e como vocês superaram?

A falta de um modelo no qual pudéssemos nos basear exigiu que fizéssemos  nosso próprio caminho e alguns  erros foram inevitáveis. Porém, continuamos com o mesmo desafio de quando iniciamos: prospectar empresas com potencial de crescimento e de lucro e achar investidores interessados.

Quais os critérios utilizados pela Vox para a identificação de uma oportunidade de negócio?

O modelo que utilizamos hoje é o de capital empreendedor para servir à população de baixa renda. Há quatro grandes etapas que acontecem concomitantemente: buscamos investidores interessados nesta proposta e uma vez que captamos este recurso vamos buscar uma “start up” para investir, uma empresa pequena, mas com grande potencial de crescimento, que tenha como foco os setores de saúde, educação habitação e serviços financeiros,  nosso investimento acontece em troca de participação acionária, ou seja, nos tornamos sócios e vamos ajudar esta empresa no dia a dia. Para fechar o ciclo, que é de dez anos, temos que vender a nossa participação e retornar o dinheiro para o investidor, se formos bem, nosso valor de venda vai ser maior que o valor de investimento e é daí que vem o retorno financeiro. Hoje temos 84 milhões de reais para investir e a ideia é nos tornarmos sócios de dez empresas.

Como está o setor de negócios de impacto hoje no Brasil?

O Brasil é um dos países com maior potencial de se tornar referência no mundo todo em negócios com impacto social. Pois, se de um lado temos a sétima maior economia mundial, com cerca de 80% da população pertencentes às classes C, D e E (que, juntas, possuem quase 50% do poder de compra no Brasil), do outro lado temos uma população muito mal servida e com uma das piores distribuições de renda do mundo. Existem oportunidades de negócios para quem quer melhorar a vida das pessoas de baixa renda. Não é à toa que há todo um ecossistema crescendo no Brasil para ajudar o seu desenvolvimento, além de fundos de investimento nacionais e internacionais.

Em Israel a figura do empreendedor é muito forte. Como você vê o empreendedorismo no Brasil? Como podemos aproveitar os recursos e informações que Israel tem a oferecer?

Israel é considerado o país das start ups, com jovens empreendedores que não tem medo de se arriscar e que estão fazendo do país o líder em progresso tecnológico. No Brasil a mentalidade empreendedora ainda é muito pequena.  Concorremos com o funcionalismo publico e com programas de trainee de grandes empresas, entre outros. O número de empreendedores é pequeno e a qualidade dos empreendimentos também deixa a desejar. Precisamos de uma cultura empreendedora mais forte. Faltam mais casos de empresas de sucesso criadas por jovens para mostrar que empreender é possível.  Algumas Universidades brasileiras como a FEA e a FGV estão acrescentando em sua grade curricular o empreendedorismo como disciplina, o que em minha opinião é muito positivo.

Algo que gostaria de acrescentar?

Para mim o empreendedorismo é uma escolha de vida, e não um conceito de carreira. Uma vez empreendedor, sempre empreendedor.  Quem pensa como eu, vai continuar empreendendo até dar certo, e só vai abrir mão e procurar por um emprego se realmente estiver passando necessidade.