Frango de proveta promete fazer veganos comerem carne

Você comeria um peito de frango produzido em laboratório? Pois uma empresa israelense que acredita na demanda por carne de proveta criou um projeto para abocanhar esse mercado. A partir da bioengenharia, a start-up Supermeat trabalha desde dezembro de 2015 no desenvolvimento de um produto cultivado a partir de células de frango.

O mecanismo é o seguinte: as células são retiradas de uma galinha viva e introduzidas em um aparelho patenteado pela empresa. Esse aparelho simularia a biologia da ave, permitindo que as células se transformem em carne, uma espécie de tecnologia de impressão 3D.

Os idealizadores do projeto esperam que o frango de proveta chegue ao mercado em cinco anos. Essa máquina poderia ser adquirida por fábricas, supermercados, restaurantes. Na prática, qualquer pessoa poderia ter um aparelho desses e criar a própria carne com a introdução de uma cápsula com as células vivas.

Nesse mercado potencial estariam as pessoas que não comem carne por causa do sofrimento imposto aos bichos pela indústria ou por causa dos produtos químicos adicionados pela indústria. Nas campanhas e na página da Supermeat na internet, o fundador da empresa, Koby Barak, diz que a carne cultivada por sua empresa será “tanto kosher quanto vegana”. Ele garante que tem o apoio dos rabinos e também dos veganos. O próprio Barak é um ativista de direitos dos animais e adotou o slogan “A carne real, sem sofrimento animal”. E ele garante que o gosto do frango cultivado é o mesmo do tradicional.

Barak acredita que o processo pode revolucionar a forma como o mundo come carne, funcionando como um aliado contra a degradação ambiental, o sofrimento dos animais e pandemias globais.

Vaquinha. Como nem tudo são flores na ciência, o ceticismo contra a carne cultivada ainda é grande e falta patrocinador para o projeto. A start-up está fazendo uma vaquinha virtual para arrecadar fundos. Até ontem, tinha recebido US$ 144,5 mil em doações.

O porta-voz da companhia, Shir Friedman, defende que o crowdfunding é uma maneira de mostrar à indústria que os consumidores querem a carne cultivada e, assim, despertar neles o interesse.

Além do lado científico inusitado, a SuperMeat aposta em uma publicidade forte, com vídeos de atores e modelos nas redes sociais dando depoimentos. Rabinos ortodoxos e sionistas religiosos também participam da campanha pela carne de frango in vitro. “Nós estamos buscando a melhor maneira de por fim ao sofrimento animal, sendo também realistas sobre os hábitos alimentares envolvendo a carne. Por isso vamos desenvolver uma carne real, sem uso de soros ou antibióticos, em máquinas que poderão estar em supermercados”, diz Koby Barak.

Embora a Supermeat tenha focado no frango, outras carnes, em tese, poderiam ser produzidas in vitro pelo mesmo processo.

Bife de plantas

Em junho deste ano, a startup norte-americana Impossible Foods lançou seu primeiro hambúrguer vegetal, que tem textura, cheiro e até gosto idênticos ao de carne bovina. “A missão desta empresa é tornar desnecessário comer animais. Então, queremos que nosso produto seja delicioso como carne”, disse o fundador da empresa, Patrick Brown, ao The Wallstreet Journal.

Hambúrguer cultivado deu a largada no mercado em 2013

Outras empresas já investem no mercado de carnes cultivas desde 2013, embora ainda não tenham conseguido popularizar o produto.

Há três anos, um evento em Londres chamou a atenção para o hambúrguer cultivado, projeto do cofundador do Google Sergey Brin, mostrando um homem comendo o primeiro sanduíche feito com carne fruto dessa tecnologia – os cientistas cultivaram 20 mil fibras de músculo a partir de células-tronco bovinas para criar uma substância biologicamente idêntica à carne de vaca. Porém, o produto esbarrou no preço: o sanduíche custava  € 290. A Supermeat garante que o hambúrguer de frango vai custar em torno de € 1,70 a unidade.