O mundo ocidental pode ter se acostumado com os fornos de micro-ondas e fogões elétricos, mas a maioria das populações em desenvolvimento ainda cozinha e aquece seus lares com o fogo aberto. Embora possa parecer um estilo de vida mais camponês e saudável, a Organização Mundial da Saúde informa que até quatro milhões de pessoas morrem devido aos efeitos diretos e indiretos do cozimento com combustíveis sólidos, como madeira, carvão e carvão vegetal.
Essa estatística desconcertante despertou a atenção dos inventores israelenses do sistema HomeBioGas depois que a informação lhes foi destacada por ninguém menos que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Durante uma visita ao presidente, Reuben Rivlin, no ano passado, Ban expressou a necessidade global de uma solução sustentável e segura para esse grande problema, considerando o biodigestor do HomeBioGas uma resposta muito viável.
Do lixo ao valioso óleo de cozinha
O equipamento TevaGas (TG) da HomeBioGas é o primeiro biodigestor disponibilizado no mercado que, de acordo com o diretor de marketing, Ami Amir, “é tão fácil de usar quanto uma máquina lava-louças”. Para aqueles que não sabem o que é um biodigestor, o produto transforma material orgânico (como restos de alimentos) em um combustível, conhecido como biogás, por meio de um processo anaeróbico realizado em uma atmosfera quente. Esse combustível pode ser usado em uma casa para outros propósitos, como aquecimento. De acordo com Amir, esse sistema não gera maus odores. “Os princípios básicos do biodigestor são biológicos”, explica Amir. “Há bactérias ou micróbios que lutam em condições de ausência de ar (anaeróbicos) que são capazes de fragmentar a matéria orgânica em seus componentes. Um dos resultados desse processo é conhecido como biogás, uma combinação de gás metano e dióxido de carbono.”
Ao inserir restos de alimentos ou qualquer lixo orgânico no biodigestor, os usuários podem gerar biogás limpo e renovável suficiente para cozinhar três refeições por dia. Além disso, os químicos solúveis que sobram do processo de ruptura do biogás (cerca de 10 litros, de acordo com a empresa) podem ser usados como fertilizantes líquidos para jardins e produção de hortigranjeiros, um acréscimo muito útil para agricultores e pecuaristas sustentáveis.
A equipe do HomeBioGas se reune com o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon
Melhorando drasticamente o padrão nos biodigestores
Embora isso soe semelhante à compostagem, algo que muitos de nós já fazem, Amir enfatiza que o sistema da HomeBioGas é diferente. “A compostagem é boa, mas não oferece muito valor real”, diz ele, principalmente porque muitas pessoas que realizam compostagem não tratam elas próprias o produto orgânico. “A compostagem gera metano que não é tratado e, portanto, é muito mais prejudicial para a atmosfera”, acrescenta.
O biodigestor, propriamente, não é uma inovação. Os inventores israelenses do sistema HomeBioGas, o CEO Oshik Efrati e o diretor de operações Yair Teller, estavam familiarizados com os biodigestores domésticos mais baratos, mas buscavam uma forma de torná-los mais eficientes e acessíveis. “As pessoas vêm desenvolvendo e construindo equipamentos semelhantes aos nossos há quase 20-30 anos”, diz Amir, sobre a história da tecnologia de biodigestores. No entanto, a maioria desses serviços nos países em desenvolvimento como China e Índia “é muito primitiva e os equipamentos básicos são difíceis de instalar e operar”.
A equipe da HomeBioGas passou anos melhorando os modelos de biodigestores indianos e chineses existentes, mas logo percebeu que as populações desfavorecidas tinham necessidade de um modelo totalmente novo. “A intenção era desenvolver o melhor produto que fornecesse biogás a partir do lixo para as populações não atendidas da América Latina”, diz Amir. É claro, antes de lançar seu produto em escala mundial, a equipe queria testá-lo em casas, razão pela qual os primeiros modelos funcionais foram introduzidos em uma comunidade beduína no Deserto de Negev, em Israel. “Nessas comunidades, há poucos meios de descarte de lixo, ou nenhum, e quase não há conexões com as empresas de serviços públicos”, explica Amir.
Equipamento melhora drasticamente o padrão dos biodigestores.
Também para os integrantes do Primeiro Mundo ambientalmente conscientes
Desde seu lançamento, a HomeBioGas lançou outros projetos de auxílio nos territórios palestinos, apoiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e pelo Centro Peres para a Paz, assim como na República Dominicana, onde as populações rurais contribuem fortemente para o problema do desmatamento, devido à necessidade de madeira para cozinhar. “Pessoas da República Dominicana nos disseram que cada família destrói cerca de dez árvores por ano e que, nas famílias, geralmente a mulher carrega até seis toneladas de madeira por ano”, diz Amir.
Como a empresa atende principalmente comunidades de poucos recursos, muitos de seus clientes não têm condições de arcar com o envio do produto. Isso significa que a empresa precisa contar com pesados subsídios dos governos e organizações não governamentais, o que pode ser difícil de obter.
Apesar disso, devido a uma maior conscientização sobre questões ambientais, como reciclagem, compostagem e produção de biogás doméstico, a empresa está recebendo algum apoio em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a Austrália e alguns países europeus, que querem o sistema para suas próprias casas. “A necessidade das populações de classe média pode não ser tão grande, mas algumas querem uma ‘lata inteligente’ que possa transformar seu lixo em algo útil como gás de cozinha e fertilizante”, diz Amir.
Atualmente, o sistema é vendido por cerca de US$ 2.500 (NIS 10.000) a unidade. E, embora a HomeBioGas não tenha nenhum concorrente direto, as alternativas mais baratas e simples disponíveis na China e na Índia representam um desafio devido ao seu preço drasticamente mais baixo.
Fonte: NoCamels