Entrevista com Daniel Zajfman, presidente do Instituto Weizmann de Ciências

Vice-Presidente da Câmara, Mario Fleck recebe o presidente do Instituto Weizmann, Daniel Zajfman
Vice-Presidente da Câmara, Mario Fleck recebe o presidente do Instituto Weizmann, Daniel Zajfman

Liane Gotlib Zaidler para a Câmara Brasil Israel

Localizado em Rehovot, Israel, o Instituto Weizmann de Ciências é uma das mais respeitadas instituições de pesquisa multidisciplinar no mundo. Notável por sua ampla gama de exploração das ciências naturais e exatas, o Instituto abriga cerca de três mil cientistas, estudantes, técnicos e equipe de apoio.

Daniel Zajfman, presidente do instituto israelense, esteve no Brasil e concedeu entrevista à Câmara Brasil Israel.

Nascido em Bruxelas, na Bélgica, Daniel Zajfman emigrou para Israel em 1979. Em 1983 formou-se em Física, no Instituto Technion em Haifa, e em 1989 recebeu seu PhD em física atômica. Após concluir seu pós-doutorado no Laboratório Nacional Argonne, em Illinois, retornou a Israel em 1991 e começou sua carreira como cientista sênior do Departamento de Física de Partículas no Instituto Weizmann. Em novembro de 2006, foi eleito o décimo presidente do Instituto Weizmann de Ciências tornando-se aos 47 anos, o mais jovem presidente do Instituto.

Como é ser presidente do Instituto Weizmann? Quais são os principais desafios e conquistas desta posição?

Há desafios de todos os tipos, mas é realmente um grande privilégio ser presidente do Instituto Weizmann. A cada dia temos novas surpresas que vão mudando a cara do Instituto ano após ano. Algumas das descobertas que estão ocorrendo exatamente agora em nossos laboratórios, poderão mudar o seu e o meu futuro.
Não sou encarregado de planejar a investigação propriamente dita, mas busco identificar pessoas com potencial de liderança em seus campos de pesquisa afim de atraí-los para o Instituto. Além disso, também devo identificar as áreas com potencial para serem os principais campos da investigação científica de amanhã, e tentar conseguir financiamentos e investimentos que garantam o futuro do Instituto.

Qual o segredo para que o Instituto Weizmann atingisse esse grau de excelência em ciências, tendo em seu quadro ganhadores do Prêmio Nobel?

Para se atingir um elevado nível de sucesso é preciso atrair cientistas jovens e notáveis, e depois deixá-los seguir a sua curiosidade. Nós não lhes dizemos o que pesquisar, mas garantimos que tenham todas as condições e recursos necessários para colocar em prática todo seu potencial como cientistas de primeira linha.

Quais as qualidades básicas exigidas de um cientista que queira trabalhar no Instituto Weizmann?

Ele tem de ser muito bom no que faz, ter curiosidade e paixão pela ciência. As descobertas são resultado de intenso trabalho cerebral dos cientistas. O conhecimento apenas não é suficiente. Ele está disponível com facilidade na internet e nos livros. Saber muito não significa ser capaz de fazer muito. Se fosse assim, qualquer um poderia se tornar cientista. Nossa seleção é baseada no mérito.
Como o Weizmann faz para reter os cientistas no Instituto?

Oferecemos aos cientistas toda a liberdade para suas pesquisas. Algumas instituições dão diretrizes em excesso a esses profissionais, limitando em demasia seu campo de investigação. Os grandes avanços da ciência foram conquistados por pessoas que não estavam tentando resolver um problema específico.

Como transformar as descobertas em produtos?

Em 1959, fundamos a Yeda, uma das primeiras empresas de transferência de tecnologia do mundo, com o objetivo de vender nossas descobertas. Entendemos a diferença entre descobertas feitas em laboratório e a introdução desses inventos no mercado. Nem sempre pesquisas bem-sucedidas significam sucesso no mercado. Por isso, aprendemos ao longo dos anos a não envolver os cientistas na comercialização do resultado das pesquisas.

O que Brasil e Israel podem ganhar em uma troca de experiências na área de ciência e tecnologia?

O avanço científico é um empreendimento para toda a humanidade. Ele ocorre em todo o mundo, pois a ciência não conhece fronteiras. Cada cientista traz em seu trabalho sua cultura e visão de mundo, e isso pode ter grande influência nas ideias, abordagens e na maneira como cada um vai conduzir sua pesquisa. Por essa razão, é muito importante que cientistas de diferentes partes do mundo trabalhem em cooperação.

Como o senhor vê o futuro da ciência?

O ritmo da ciência está em constante aceleração. O que não está tão claro é se as sociedades saberão o que fazer com todo esse novo conhecimento. No Weizmann, acreditamos que todos os membros da sociedade precisam ser educados sobre a ciência, e estamos concentrando esforços em diferentes níveis para levar a ciência ao público. Uma sociedade bem informada será capaz de tomar decisões racionais sobre questões que a afetem, inclusive questões éticas.