Entrevista com Boaz Albaranes, novo cônsul econômico de Israel

Liane Gotlib Zaidler para a Câmara Brasil Israel

 

Boaz AlbaranesConte-me sobre sua trajetória profissional

Sou formado em engenharia elétrica e computação pelo Technion de Israel. Depois de trabalhar por quase três anos no setor de Cleantech (tecnologia de água e energias renováveis), achava que aquilo não era para mim e resolvi mudar de área. Foi quando iniciei um curso para Adido Econômico do Ministério da Econômia de Israel,  na área de administração e comércio exterior e foi onde me realizei profissionalmente. Eu sonhava em trabalhar no Brasil, me candidatei e aqui estou como chefe da Missão Econômica de Israel no Brasil.

Quais as principais atividades da Missão Econômica de Israel no Brasil?

Nossa principal atividade consiste em ajudar empresas israelenses a se estabelecerem no mercado brasileiro. Intermediamos  os contatos com o Governo Federal e dos Estados, ajudando a construir plataformas para que as atividades comerciais possam ser desenvolvidas dentro dos objetivos, além de trabalhar diretamente com o setor privado brasileiro e israelense. Também organizamos delegações para virem ao país e vice-versa, mas sempre com um foco específico, dentro de um mesmo setor.

Como se sentiu ao saber que trabalharia no país? O que está achando do Brasil?

Fiquei muito feliz em saber que trabalharia no Brasil, tanto a nível pessoal como profissional. Apesar de toda a burocracia (para você ter uma ideia, cheguei aqui em Julho, e o container com toda a minha mudança ainda está retido), posso dizer que a minha adaptação foi muito fácil. Acho que a cultura do Brasil e de Israel são muito parecidas, mas quando se fala de negócios, é totalmente diferente. Em Israel, tudo é para ontem. No Brasil tudo tem outro ritmo e as relações são muito pessoais. Estou aqui justamente para construir pontes que possam facilitar os negócios entre os dois países.

Quais suas principais expectativas e metas como novo cônsul econômico? O que pode ser feito para incrementar as relações comerciais entre Brasil e Israel e vice-versa?

Estou fazendo um planejamento para os próximos quatro anos, pois acho importante pensar a longo prazo e trabalhar com uma estratégia definida.  Por um lado, temos que garantir que as companhias israelenses entendam os processos de cultura e negócios do Brasil ao mesmo tempo em que precisamos mostrar Israel como um mercado interessante e com muitas possibilidades para o Brasil, principalmente na área de tecnologia. O ideal é incrementarmos as relações de forma bilateral.

Quais as principais dificuldades / empecilhos?

A burocracia, a diferença cultural e principalmente a distancia. É mais fácil para um empresário israelense pegar um voo para a Europa, do que vir para o Brasil. Hoje,  com toda a tecnologia, os contatos iniciais podem ser feitos de maneira eletrônica, mas a medida que as negociações avançam, acaba se tornando necessário um contato pessoal.

Como as empresas brasileiras podem conhecer melhor o que Israel oferece?

Uma das melhores maneiras de conhecer o que Israel tem a oferecer é   participar de eventos,  missões e delegações para visitar o país, assim  como a Missão Econômica e a Câmara Brasil Israel vem promovendo nos últimos anos. Por mais que as pessoas tenham uma imagem sobre Israel, sempre se surpreendem ao chegar ao país. Além disso, também é necessário um intenso trabalho de comunicação junto à imprensa e também nas mídias sociais.

Como aumentar as exportações do Brasil para Israel e despertar o  interesse dos exportadores brasileiros no mercado de lá?. Isto ajudaria a equilibrar a balança comercial entre os dois países?

O comércio não pode ser unilateral, tem que ser como “uma via de duas mãos”. Este é o trabalho da Missão Econômica. Queremos apresentar Israel como um destino para se vender e também para se comprar.

Como vocês se relacionam com a Câmara Brasil Israel de Comércio e Industria? Os trabalhos se complementam?

A Missão Econômica e a Câmara tem muito em comum. Realizamos diversos eventos e atividades de maneira conjunta. Acho muito importante que se complementem e cooperem.

Como estimular empresas israelenses a se associarem à Câmara Brasil Israel ?

A cultura israelense é muito imediatista e os empresários tem o seguinte pensamento: “se eu não ganho hoje, não é relevante para mim”. Acreditamos que ter a Câmara como uma instituição forte é muito importante para o comércio bilateral e para isto é necessário que o maior numero de empresas se associem.

Como você vê a questão do Boicote que vem sendo feito a Israel e como evitar que isso repercuta no Brasil?

Este é um tema que me preocupa muito. Acho que o tema do boicote é muito mais forte na Europa, mas não queremos que ele se desenvolva no Brasil. Para evitar este movimento, é importante sermos proativos ao invés de reativos, de forma a realizar um trabalho intenso para fortificar as relações comerciais entre Israel e Brasil. Se estes laços forem fortes, será difícil desconectar.

E com relação aos Jogos Olímpicos que acontecerão no Brasil. Já existem parcerias firmadas com empresas israelenses? Quais serão as principais oportunidades de negócios?

Muitas empresas israelenses já estão em contato com o Comitê Olímpico, principalmente nas áreas de segurança, telecomunicação, softwares e até mesmo na questão hídrica. Este será um evento único, e com certeza trará uma grande janela de oportunidades para empresas israelenses entrarem no país.