Em entrevista ao programa 60 Minutos, Bill Gates, CEO da Microsoft, falou dos desafios da Fundação Bill e Melinda Gates. Dirigida pelo seu pai William H. Gates e contando com um orçamento mastodôntico de 38 bilhões de dólares, a fundação é a maior organização não governamental do mundo. Sendo o principal doador, Gates tem um papel preponderante nos destinos dos recursos. Na entrevista ao programa da rede de televisão norte-americana CBS, Gates afirmou que o propósito maior da fundação é desenvolver mecanismos que permitam a erradicação de algumas das principais doenças do mundo, entre elas a malária, a tuberculose, a aids e a diarreia.
Quinto lugar na lista das doenças fatais, a diarreia ceifa a vida de 2,46 milhões de pessoas a cada ano. Entre as crianças de até 5 anos é a segunda maior causa de morte em todo o mundo. Para José Luiz Aziz, professor da Faculdade de medicina do ABC, “a situação de morte por diarreia pode melhorar com hábitos de higiene e saneamento básico”. Gates está a par disso e lançou um desafio para pesquisadores de todo o mundo: Reinventar o vaso sanitário.
Citado pela primeira vez na história em 1596, o vaso sanitário revolucionou os cuidados com saúde de toda a humanidade. Até seu surgimento, as fezes eram descartadas das mais aberrantes formas, inclusive lançadas pelas janelas dos castelos em plena via pública, prática que causava, além do desconforto estético, mau-cheiros e doenças.
A invenção do vaso sanitário foi uma revolução não só no visual das cidades mas, principalmente na redução das mortes por diversos tipos de doenças. Mantendo praticamente o mesmo sistema básico – suporte para sentar-se e água para conduzir os detritos – os vasos sanitários mais comuns utilizam uma média de 6 a 8 litros de água para cada uma das descargas. E é justamente aí que entra um dos problemas que aflige a humanidade desde o remoto ano de 1596: O que fazer com o desperdício desta água e com o destino dos dejetos.
Mesmo tratando-se de um equipamento extremamente simples, 40% da população mundial não tem acesso a banheiro, fato que levou Bill Gates a desafiar centenas de pesquisadores a reinventar o vaso sanitário. Entretanto, num pequeno país do Oriente Médio, já havia uma empresa que estava à frente de todos eles no desenvolvimento de pesquisas: Israel.
Encravado numa região que dispõe de poucos mananciais de água, Israel tem que pensar a todo momento em alternativas que reduzam o desperdício deste bem precioso. Foi nessa linha de pesquisa que a empresa Paulee CleanTec apresentou seu projeto e recebeu da fundação de Gates um prêmio inicial de US$ 110 mil.
O que existe de mais revolucionário no vaso sanitário do banheiro desenvolvido pela empresa israelense é que ele não só não necessita de descargas, como recicla 100% dos dejetos nele depositados. Sólidos e líquidos são reaproveitados imediatamente, sem a necessidade de água, energia nem – incrível! – redes de esgotos.
O banheiro israelense separa automaticamente resíduos sólidos e líquidos em compartimentos diferentes. Quando o usuário dá a descarga, o vaso sanitário inicia um processo químico que converte os resíduos sólidos, incluindo papel higiênico, em cinzas estéreis e converte e recicla os resíduos líquidos. Isto leva menos de 30 segundos.
O mais impressionante ainda é que este processo também está integrado num sistema responsável pela geração de eletricidade que é utilizada para lavar e esterilizar o vaso e fornecer iluminação para o banheiro. No telhado do banheiro encontra-se um pequeno painel solar que funciona como fonte extra de energia para o sistema. As cinzas estéreis resultantes dos resíduos sólidos é rica em potássio, fósforo e azoto que após retiradas do compartimento de coleta podem ser utilizadas como composto orgânico totalmente seguro e estéril.