Em Israel, start-up não tem medo de fracasso

Em Israel, “você já começa pensando na dominação mundial desde o primeiro dia”, brinca Ami Ben David, um cofundador da start-up (empresa iniciante) de tecnologia EverythingMe, que começa a operar no Brasil nos próximos meses.

Esses sonhos de império não são sonhados em termos militares, mas de corporação. Com um mercado interno diminuto, em um país de 7,9 milhões de habitantes, as empresas israelenses de tecnologia já rompem a casca do ovo pensando em voar.

Fundada há três anos com serviços em inglês, a EverythingMe já tem 2 milhões de usuários, principalmente nos EUA e no Reino Unido. Ela produz um aplicativo para smartphones que tenta mudar “a maneira como as pessoas usam celulares”. O sistema organiza a tela de um smartphone de acordo com as preferências do usuário, customizando os aplicativos.

A start-up levantou US$ 37 milhões de financiamento e tem, hoje, 50 funcionários –alguns são brasileiros, para a produção de conteúdo em português. A investida da empresa no mercado externo não é um caminho desconhecido. Israel tornou-se, nas décadas recentes, sinônimo de inovação tecnológica no que já é visto como o novo vale do Silício.

O best-seller “Start-up Nation”, sobre o milagre econômico em Israel, é leitura tradicional no país. Entre os exemplos que incentivam novos empreendedores, estão os aplicativos Viber, vendido por US$ 900 milhões, e Waze, adquirido pelo Google por US$ 1,1 bilhão.

“A chave é a cultura”, diz Ben David. “Nossos jovens estão dispostos a correr riscos. Ter uma firma bem-sucedida aqui é como ser um jogador de futebol no Brasil.”

TENTATIVA E ERRO

Fundar uma start-up é uma experiência israelense que o brasileiro Daniel Ring, 31, adotou ao imigrar para o país. Ele criou, com o auxílio de um acelerador de empresas, o Octopulse. O site angaria recursos para trazer artistas a Israel, como Yamandu Costa.

“Conheci muitos investidores que nos recomendaram usar Israel como uma plataforma de teste para o mercado externo, quando estivermos prontos”, afirma. A empresa está se firmando na área, mas o risco de que não dê certo não assusta o empresário. “O fracasso, aqui, é visto como positivo. Significa que você tentou.”

O clima propício para o sucesso de start-ups em Israel envolve uma série de fatores difíceis de reproduzir em outros países, afirma Niron Hashai, professor da escola de negócios da Universidade Hebraica.

Entre eles, uma cultura informal sem respeito por hierarquia, levando ao pensamento criativo e ousado. Além disso, há a experiência militar de três anos obrigatória, que expõe os jovens a situações em que precisam de pensamento veloz e eficaz -levando, também, a uma indústria tecnológica que imigra do bélico ao civil.

“Israel não tem outra opção”, afirma Hashai. “Temos recursos naturais escassos, então precisamos olhar para os recursos humanos e mirar no mercado externo”, diz.

DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL DA FOLHA A TEL AVIV