O mais antigo estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo sobre trânsito, o relatório “Volumes e Velocidades”, publicado desde 1977 com índices de congestionamento e velocidades médias nos principais corredores viários, mostra que em 2015 houve redução da participação dos automóveis na composição do tráfego da cidade. A redução, de 1,3 ponto porcentual (de 80,2% para 78,9%) é a primeira queda em cinco anos. Por outro lado, as velocidades médias tiveram aumento nos dois horários de pico.
Para especialistas – além da crise econômica, que fez cair o número de empregos e a circulação de mercadorias -, a explicação mais plausível é o chamado “efeito Waze”: o uso de aplicativos de navegação que permitiriam aos motoristas saírem das vias mais saturadas e buscar rotas paralelas na capital, com trânsito mais livre.
Esse efeito passa a ser considerado por que a pesquisa é restrita a 28 “rotas”, como a CET chama conjuntos de corredores viários. Essas rotas são formadas por 101 ruas e avenidas (por exemplo: é uma única rota o corredor formado pela Rua da Consolação, a Avenida Rebouças e a Avenida Eusébio Matoso) que abrangem os principais corredores viários da cidade. Ela é restrita porque os dados são coletados in loco: cerca de 50 agentes monitoram as vias ao longo do ano – percorrendo os locais de carro para cronometrar os tempos de viagem.
Alternativas. Como as vias alternativas ficam fora da conta, a hipótese dos especialistas é de que parte dos carros fugiria das vias principais para esses caminhos, fora do estudo, orientadas pelos aplicativos – só o aplicativo israelense Waze tem 3 milhões de usuários ativos na Grande São Paulo, conforme dados da empresa publicados em setembro.
“Estamos falando de redução de fluxo não em um sistema normal, mas em um sistema que estava ultra saturado”, diz o consultor de mobilidade Sergio Ejzenberg, mestre em Transportes pela Universidade de São Paulo (USP). “Em um sistema assim, tem quem circula pelo corredor, o ‘caminho da roça’, e tem quem não aguenta e procura caminhos alternativos. Essas vias geralmente dão mais volta, mas economizam algum tempo. Não dão aquela sensação terrível de trânsito parado”, afirma o especialista. “Os caminhos alternativos em um sistema como o nosso têm uma contribuição importante (para o trânsito como um todo) e programas como o israelense Waze apresentam efeito significativo.”
Crise. Ejzenberg, no entanto, aponta essa possibilidade como apenas uma das explicações para a redução do total de carros. A outra é a crise. “A mobilidade é uma consequência direta da atividade econômica. Estamos vivendo uma crise brutal.”
É o mesmo raciocínio de Claudio Barbieri da Cunha, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade de São Paulo (USP). “O principal fator é a crise.” Barbieri também concorda com a explicação do “efeito Waze”, ressalvando que “faltam dados para que se possa afirmar isso”.
Já para os engenheiros da CET, o “efeito Waze” está, sim, acontecendo e pode ser provado – mas a economia ruim não teria relação nenhuma com isso. “Os dados de pedágios nas estradas não mostram queda na circulação de carros”, rebateu Tadeu Duarte, diretor de Operações da CET.
Ele diz que o trânsito na capital não é só pensado nos grandes corredores, “mas em regiões”. Nesse contexto, a busca por rotas alternativas seria facilitada por apps. “Aquelas pessoas que já estão em seus caminhos alojadas vão continuar seguindo esses caminhos. Aquelas que percebem que a rota está problemática, elas vão usar o Waze para seguir fora dele”, diz. “Não estamos desencorajando isso e achamos que a mudança pode estar acontecendo de forma tranquila”, diz.
Dados. No total, 78,9% dos veículos em circulação nas rotas pesquisadas são carros e 16,3% são motos. Os ônibus, públicos e fretados, somam 2,7%. Os caminhões são 1,6%; e as bicicletas, 0,5% dos veículos.
A velocidade média aumentou de 20,7 km/h para 22,1 km/h no sentido bairro-centro no horário da manhã. No pico da tarde, passou de 16 km/h para 17,9 km/h no sentido centro-bairro. Os aumentos ocorreram já na vigência das políticas de redução de limites de velocidades.
Fonte: Estadão