Diretor do Centro de Nanotecnologia da Universidade Hebraica de Jerusalém visita o Brasil e fala sobre as novidades que vão impactar no futuro da humanidade

Liane Gotlib Zaidler – Para a Câmara Brasil Israel

levyConte-me brevemente sobre sua trajetória profissional

Comecei minha carreira estudando física e engenharia de materiais no “Israel Institute of Technology”. Pouco antes de conquistar o PHD em fotônica (ciência da geração, emissão e amplificação da luz) na Universidade de Tel Aviv, me envolvi como co-fundador da  Civcom, uma startup que produzia  componentes para o mercado de telecomunicações ópticas e que foi comprada pela empresa brasileira Padtec. No final de 2002 me tornei pesquisador na Universidade de Califórnia, em San Diego. Lá me familiarizei com o campo da nanociência e nanotecnologia, e foquei minha pesquisa no campo da nanofotônica. Em 2006 voltei a Israel como professor da Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ) onde estabeleci o laboratório de nanofotônica.  Envolvi-me com o Centro de Nanociência e Nanotecnologia da UHJ desde seu início, para em 2014 me tornar seu diretor.

Como o senhor definiria a nanotecnologia para o público leigo?

A nanotecnologia envolve a capacidade de manipular materiais e estruturas em escala nano. Um nanómetro é o tamanho de uma molécula, e isso é  cerca de cem mil vezes menor do que um fio de um cabelo humano. Através da capacidade de construir novas estruturas através de blocos tão minúsculos, agora é possível modificar diversos materiais existentes e até mesmo desenvolver novos materiais com melhores funcionalidades eletrônicas, ópticas e mecânicas.

Como é ser diretor do Centro de Nanotecnologia da UHJ e como a Universidade se destaca nesta área?

Este é um trabalho desafiador e também divertido. O maior desafio está em manter nossa posição de líder na comunidade nacional e internacional, o que demanda esforços constantes para melhorar nossas instalações e criar uma atmosfera de colaboração entre os pesquisadores dos principais institutos de todo o mundo. Além disso, é importante adaptar a pesquisa de tal modo para que ela possa trazer resultados inovadores que beneficiem a humanidade. Recentemente atingimos esse grande objetivo, quando nosso Nano Center foi classificado pelo conselho consultivo internacional como  topo na maioria dos critérios de avaliação.

Quais as principais áreas onde se concentram as pesquisas?

A Universidade Hebraica é considerada o principal instituto israelense em nanotecnologia. O número de artigos de pesquisa publicados em revistas de alto impacto é enorme, superior a 300 documentos por ano. O Nano Center também é muito forte na obtenção de fundos destinados à investigação de agências de financiamento competitivas. Além disso, somos muito ativos na comercialização das nossas ideias para o benefício da humanidade e que apoiem a economia, mais de 20 empresas startups foram geradas como consequência de nossas atividades nos últimos anos.

Em que produtos e serviços a nanotecnologia poderá ser aplicada no futuro e qual será o  impacto em nosso dia a dia?

Acredito que em um curto espaço de tempo veremos o impacto   nas áreas da saúde e meio ambiente, energia, comunicação e segurança interna, com produtos que melhoram a relação de custo da energia, medicamentos avançados baseados em nanotecnologia para entrega inteligente e direcionada de drogas, dispositivos de memória mais avançados, além dos mais variados sensores para monitoramento da qualidade de água, do ar,  de materiais perigosos, e dos parâmetros humanos (glucose, oxigénio, etc.),

Entre outros avanços posso destacar o  “the invisible cloak”, um material que ao ser colocado sobre um objeto o torna invisível, um sistema de navegação autônomo que pode ser utilizado sem a necessidade de GPS e que funcionará em túneis, lugares fechados ou até mesmo embaixo da água,  e também  a nova tecnologia para  criar cores artificiais sem precisar de pigmentos,  apenas com a nanotecnologia.

A nanotecnologia poderia representar um fator de redução de custos em alguns produtos?

Absolutamente. Esta é uma das principais vantagens e um dos grandes desafios da nanotecnologia.

Em sua opinião, o pesquisador deve se preocupar com a inovação? Ele deve ter noções de mercado?

Esta é uma questão fundamental que vem sendo muito discutida  e  que continuará sendo tema de debates também no futuro. Por um lado, o primeiro interesse do pesquisador é entender os segredos da natureza e encontrar respostas para os mistérios não resolvidos. Por outro, em muitos casos, a pesquisa moderna busca encontrar aplicações que ajudem a sociedade. Em princípio, cabe ao pesquisador escolher a direção de seus trabalhos.  Eu pessoalmente admiro a pesquisa que traz inovação e pode ser utilizada na vida real.

O fato da UHJ contar com vários Prêmios Nobel e estar entre as melhores do mundo pode ser considerada uma resposta de Israel ao mundo que sempre recrimina o país?

Nosso trabalho é realizar pesquisas no nível mais elevado possível, sem qualquer relação com a política. Os esforços de pesquisa, bem como seus frutos são compartilhados por todos, independentemente de sua religião ou origem étnica. Obviamente, ter ganhadores de prêmio Nobel conosco na UHJ reforça o prestigio e a legitimidade da Universidade.

Como o senhor avalia sua visita ao Brasil?

Esta foi minha primeira viagem ao Brasil e fiquei realmente impressionado com muitas das pessoas que conheci, com paixão pela ciência e verdadeiro amor por Israel. Espero que este seja o início de uma amizade verdadeira.

Algo que gostaria de acrescentar?

A Nanotecnologia serve como uma ponte que permite atravessar barreiras entre diferentes povos, culturas e religiões, conectando-se com pessoas de diferentes lugares e origens. Tenho o privilégio de trabalhar neste campo e minha esperança é de que os frutos da investigação afetarão a vida cotidiana das pessoas ao redor do mundo nos próximos anos.