Como o maior hospital de Israel faz uso da bioconvergência para inovar em saúde

Israel é um país que se destaca globalmente por apresentar um poderoso ecossistema de inovação em diferentes áreas. No setor da saúde, não é diferente. Além de contar com um ambiente favorável à inovação, a nação aprendeu e desenvolveu a bioconvergência, conceito que é apontado como o potencial futuro da ciência, e, por meio dele, conquistou diversos avanços científicos e construiu toda uma indústria capaz de movimentar e alavancar sua economia.

A bioconvergência nada mais é do que a sinergia entre biotecnologia, engenharia e sistemas computadorizados para enfrentar desafios não resolvidos em saúde e acelerar melhorias no setor. As pesquisas acadêmicas, é claro, já combinam essas ciências há muito tempo, mas os avanços tecnológicos potencializaram essa junção que, hoje, tem como resultado a captação de investimentos, criação de patentes e a possibilidade de unir atores como hospitais, universidades, startups, cientistas, médicos e pacientes em prol da inovação.

Uma das grandes referências em bioconvergência é o Sheba Medical Center, o maior hospital de Israel. Na última edição do Einstein Frontiers, evento de inovação e novas tecnologias em saúde do Einstein, Shai Tejman-Yarden, diretor de Medical Device Hub do Sheba ARC Innovation Center, o centro de inovações da instituição, contou um pouco sobre o que é feito por lá, como as inovações se tornam possíveis e quais são os ganhos para o sistema de saúde, de forma geral, com a tecnologia.

Investimento é peça-chave para a inovação

Segundo Tejman-Yarden, o Sheba conta com seis centros hospitalares, dez mil profissionais de saúde e mais de dez mil leitos. Seu diferencial, no entanto, está em um potente data lake – repositório centralizado projetado para armazenar, processar e proteger grandes quantidades de dados – e nos projetos que atraem milhares de dólares. “Não fazemos o que fazemos pelo dinheiro, queremos mudar a realidade da saúde. Mas o dinheiro faz a diferença e precisamos dele para trabalhar no desenvolvimento de inovações”, diz.

Ele traz como exemplo o investimento da Medtronic de US$ 325 milhões, em 2009, em uma empresa israelense de tecnologias de válvula cardíaca para o tratamento da doença da válvula aórtica, que transformou a então startup em um importante novo centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) naquele país.

“Em 2019, o diretor de inovação do Sheba, Eyal Zimlichman, pensou um ecossistema para liderar e não para sermos liderados pela tecnologia. Ele consiste em elementos que trabalham juntos, como o meio acadêmico, cheio de pessoas com ideias e pesquisas ótimas; a indústria, que precisa de ideias e de habilidades específicas; e as startups, que são capazes de dar vida a essas ideias”.

Todas essas frentes trabalham em conjunto com os médicos e especialistas do Sheba, encontrando soluções para hubs focados em medicina de precisão, realidade estendida (XR), inteligência artificial (IA), aparelhos médicos e cuidado remoto. Com essas iniciativas, a instituição chegou a resultados que já são colocados em prática, segundo Teiman-Yarden:

“Por meio da realidade aumentada, mostramos ao médico como fazer uma cirurgia com boa qualidade de imagem, temos sistemas 3D de treinamento e tudo dentro do hospital. Outra solução é uma ferramenta de IA que lê e avalia lesões em exames de colonoscopia, o que tomava horas da rotina de um profissional de saúde”.

Parcerias e compartilhamento de ideias e soluções

O Sheba também aposta na inovação aberta, promovendo a colaboração de outras organizações e pessoas interessadas no desenvolvimento de novas tecnologias. “Temos uma incubadora dentro do Sheba e abrimos as portas para outros hospitais que queiram trabalhar conosco. Temos financiamento de capital de risco e joint venture com outras instituições. E não precisa ser uma empresa, qualquer pessoa que tenha uma ideia pode nos procurar”.

O resultado é a criação, até agora, de 90 startups e 185 famílias de patentes em saúde, além da arrecadação de US$ 225 milhões para financiamento de seed – modelo de aporte feito em empresas em estágio inicial ou em fase de projeto e desenvolvimento.

“O sistema se converte para criar empresas, que geram dinheiro, que se transforma em inovações, que geram o bem para a humanidade. Conseguimos verba para ajudar os médicos a contar com mais e melhores opções de diagnóstico e tratamentos, tendo como finalidade sempre o paciente na ponta”, afirma.

O futuro da bioconvergência

Esse modelo de fazer ciência, gerar inovação e angariar investimentos está crescendo rápido e ganhando o mundo. E Tejman-Yarden enxerga um bom potencial no Brasil, que conta com um sistema público de saúde que é referência globalmente, uma potente indústria e que já trabalha com inovações no setor.

“Na minha visão, o que falta no Brasil é trazer o meio acadêmico mais para perto, trazer outras fontes de pesquisas e criar dependências dentro dos hospitais para isso, despertar o trabalho em conjunto para levantar capital e começar esse ciclo benéfico.” 

Outro aspecto importante que o diretor traz como diferencial é o apoio dos governos nas inovações. Fato que se dá em Israel de forma intensa e que ele considera como uma tendência que não apenas deve, mas precisa acontecer em outros locais.

“Quando mostramos para o governo que estamos trabalhando com a academia em projetos contundentes e com interesse da indústria, ele entra com investimento robusto para fazer acontecer, porque sabe que, dessa forma, vamos atrair investimentos de empresas internacionais, por exemplo. Isso gera novos empregos, visibilidade para o país e acaba beneficiando a todos. É preciso entender que a inovação faz parte de um processo que abarca outros agentes e setores”, conclui.

Fonte: Futuro da Saúde – Foto: Artem Podrez