Como a comunicação máquina a máquina vai impactar nossas vidas

Liane Gotlib Zaidler
Para a Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria

443_daniel2A Internet das Coisas traz uma mudança significativa na maneira como interagimos com o mundo e o modo como o mundo interage conosco. Ela chega com o intuito de facilitar os negócios e a vida de todos.Daniel Fuchs, da Datora Telecom fala sobre sua experiência no mercado de comunicação e de como a comunicação máquina a máquina vai impactar nossas vidas.

Conte-nos sobre sua experiência no mercado de comunicação?
Estou no segmento de comunicação desde 1996, quando comecei a trabalhar com uma tecnologia conhecida como VoIp ou Telefonia por Internet. O foco da Datora Telecom sempre foi o segmento de atacado, sendo que comercializamos tráfego telefônico, dados e SMS para operadoras no Brasil e no mundo. De 2010 para cá, temos também uma licença de operadora móvel virtual, ou seja, uma operadora de celular que, diferente das outras operadoras móveis, aluga as antenas de outra operadora, reduzindo muito o investimento para montar o negócio.Nesta jornada, ajudamos a construir a Conecta (Porto Seguro Telecom) e focamos no segmento conhecido como IoT (Internet das Coisas), minha especialidade no momento.

Como surgiu a ideia de criar a Datora Mobile?
A Datora Mobile se originou da veia de atacado da Datora Telecom, onde vimos a oportunidade de vender serviços para outras operadoras, também na área móvel, possibilitando que operadoras de telecom de outros mercados globais, operadoras de serviços móveis ou ainda empresas que busquem atender seus clientes finais através de um canal de relacionamento permanente (conectividade móvel), criem o SIM Card com suas marcas e seus próprios planos de serviço.
Esta licença de MVNO (Operadoras Móveis Virtuais) que mencionamos, autoriza a criação de múltiplas “operadoras” para os diversos tipos de clientes, sendo que nos permitiu criar nossa própria operação com foco no segmento de comunicação máquina à máquina (m2m) e IoT;

Como surgiu a “Internet das Coisas” e como ela pode ser definida?
A comunicação máquina a máquina existe há muito tempo, desde quando se começou utilizar meios de telecomunicações para transmitir dados, porém definimos m2m realmente quando esta comunicação é automata, ou seja, não é iniciada por um ser humano.
Nos últimos anos, com a queda de custo do hardware, da onipresença da conectividade, do menor custo das soluções de armazenamento de dados (Big Data) e da capacidade de processamento muito maior dos servidores, para executar algoritmos, definiu-se então os pilares do que chamamos de Internet das Coisas: sensores transmitem dados que são armazenados na nuvem e processados a fim de se obter informações, que por sua vez podem ser disponibilizadas para o cliente, que pode executar mudanças nos dispositivos ou no próprio equipamento sendo conectado.

Você poderia citar exemplos de alguns produtos ou tecnologias que usam a “Internet das Coisas?
Os casos vão desde telemetria veicular, passando por marca passos que fornecem estatísticas constantes para médicos, até elevadores que solicitam sua própria manutenção.
Entre esses segmentos e aplicações, destacam-se:

Carros Conectados – recuperação de veículos roubados; sistema de chamada de emergência no veículo; gestão de frota; assistência na estrada; entretenimento no veículo e acesso à Internet; navegação de veículos; voz no veículo; seguro e diagnósticos de veículos.

Cidades Inteligentes – gestão do tráfego rodoviário; carga de veículo elétrico; meio ambiente e segurança Pública e monitoramento ambiental

Saúde: assistência; monitoramento remoto; testes clínicos; ambientes médicos conectados; alertas para medicamentos; e monitoramento pessoal

Indústria: agricultura terrestre; novas fontes de energia; monitoramento de equipamentos de construção; indústrias extrativas; monitoramento de rede inteligente e distribuição; máquinas de venda automática; fabricação e processamento; armazenagem; publicidade no espaço público; cadeia de mantimentos; equipamento de escritório especializado; defesa; serviços de emergência; e segurança interna. No setor de varejo, inclui o controle de limites; acompanhamento e pagamento de mercadorias e aplicações especiais.

Quais as vantagens e os riscos que ela oferece?
A Internet das Coisas (IoT) traz muitas facilidades e tem modificado os modelos de negócios das empresas ao redor do mundo, inicialmente as principais soluções de IoT estavam muito voltadas a redução de custos operacionais e automação de processos como por exemplo rastreamento de cargas e atuação da cadeia produtiva, porém o que vemos atualmente é que as empresas que apresentam mais ganhos e retorno financeiro com implementação desses projetos ão aquelas que o colocam como centro de sua estratégia e posicionamento fazendo com que novas linhas de receita sejam criadas. Com certeza, esta série de funcionalidades programadas geram muita preocupação em relação à segurança da informação. É importante garantir que as informações compartilhadas por meio da IoT fiquem seguras, que as máquinas desempenhem suas funções com estabilidade e controle. Sendo assim, as empresas terão de encontrar profissionais e empresas confiáveis para cuidar da segurança e monitorar o desempenho da IoT para não deixar que nenhuma operação fuja do controle, garantindo, inclusive, que os aparelhos envolvidos interpretem sempre corretamente as configurações e que o conjunto de dados produzam sempre os efeitos esperados.

É verdadeira a afirmação de que a Internet das Coisas pode causar impacto enorme em nossas vidas?
É evidente que a internet das coisas vai mudar radicalmente como vivemos e como fazemos negócios. A IoT vem ganhando muita força em aplicações empresariais. Ao conectar pessoas, processos, dados e objetos, a IoT permite que as empresas acumulem e acessem qualquer tipo de informações com uma precisão muito maior.

Como é este mercado hoje no Brasil e qual a previsão de crescimento?
Há estimativas de que a Internet das Coisas pode adicionar 352 bilhões de dólares à economia brasileira até o final de 2022. O Brasil responde por mais de um terço de um montante de 860 bilhões de dólares em estimados pela fabricante que o conceito de IoT adicionará à economia latino-americana nos próximos anos. O país é o terceiro maior mercado de conexões M2M móveis no mundo, está entre os mais importantes do mundo. Desse total, 70 bilhões de dólares se relacionariam a projetos no setor público e outros 282 bilhões de dólares a partir da iniciativa privada. De acordo com pesquisa da Teleco o número de objetos conectados no Brasil pode chegar a 200 milhões em 2025.

De que forma profissionais da indústria de tecnologia precisam se preparar para essa área? O que é preciso saber?
O ideal é se preparar para trabalhar com big data, algoritmos, conectividade, segurança e privacidade. E, dada a natureza de dispositivos sempre conectados, também é necessário considerar consumo de energia, velocidade do chip, memória e atualizações de firmware. Todos esses fatores críticos determinam os resultados. Saber como adotar a IoT nas organizações com visão e utilização dos dados recebidos é essencial para o sucesso da aplicação.

A internet das coisas pode ser um território fértil para que jovens talentos se dediquem a explorá-lo? Você faria esta recomendação?
Com certeza a Internet das Coisas tem potencializado o segmento de start ups ao redor do mundo, o que vemos são inúmeros casos de empresas criadas por jovens talentos desenvolvedores e empreendedores sendo capitalizadas por grupos investidores ou até mesmo compradas por grandes empresas. Temos uma série de iniciativas que estão sendo e serão lançadas com o objetivo de captar todas essas oportunidades e soluções que estão surgindo. Um exemplo disso é o plano nacional de internet das coisas que está sendo desenvolvido pelo Ministério das Comunicações em parceria com o BNDES, o qual teve sua consulta pública finalizada em fevereiro desse ano com o objetivo não apenas de regulamentar o setor mas criar prioridades de investimentos em segmentos chaves e importantes para o país.