Check-up intestinal: cápsula inteligente está tornando o exame de câncer de cólon mais fácil de engolir

Fazer 50 anos não é fim do mundo, dizem. Mas é o momento de fazer uma colonoscopia. A “preparação” para esse ritual da meia-idade costuma incluir uma dieta à base de líquidos no dia anterior ao exame, coroada por um laxante ou enema. Quando o cólon está limpo, os médicos inserem um tubo flexível com câmera na extremidade inferior do aparelho digestório, utilizando-o para procurar pólipos ou câncer. Normalmente o procedimento exige sedação. “Embora a preparação seja desagradável, é a sedação que interfere no trabalho e cria dificuldades logísticas para muitas pessoas”, afirma Bill Densel, CEO da Check-Cap, empresa israelense que quer mudar tudo isso.

A Check-Cap está desenvolvendo um escâner ingerível que atinge o mesmo objetivo. Os usuários simplesmente engolem o dispositivo, que tem mais ou menos o mesmo tamanho de uma vitamina grande, e então ele passa os dois ou três dias seguintes viajando pelo aparelho digestório, escaneando o interior do cólon com raios X precisamente cronometrados. Ele faz a transmissão sem fio das informações para um gravador de dados que os usuários prendem nas costas. Os médicos, então, retiram o gravador e analisam os dados. Segundo Densel, os pacientes devem manter sua rotina de sempre durante o exame. “Queremos as pessoas comendo normalmente, as queremos se exercitando, se é o isso que fazem”, diz. A cápsula não precisa ser recuperada após ter passado pelo corpo.
A Check-Cap realizou dois “estudos clínicos de viabilidade” que envolveram 175 pacientes na Alemanha e em Israel. “O objetivo foi avaliar a segurança e a prova clínica de conceito”, explica Densel. A empresa realiza atualmente um estudo em diversos centros médicos de Israel para avaliar a segurança e o desempenho clínico. Agora, a Check-up está trabalhando com a GE Healthcare para aumentar a capacidade de produção de fontes de raio X para a cápsula.

Sediada perto de Haifa, em Israel, a Check-Cap foi fundada pelo Dr. Yoav Kimchy, médico israelense que reconheceu que pessoas com alto risco de câncer colorretal resistem a fazer a colonoscopia. Ele teve a ideia da cápsula durante seu serviço militar obrigatório, quando serviu a Marinha israelense e se familiarizou com a navegação submarina. “Os submarinos conseguem ‘enxergar’ em lugares escuros e turvos usando o sonar”, afirma Densel. “A cápsula é basicamente o mesmo tipo de ambiente.” Kimchy criou uma tecnologia que usa raios X ao invés do som para mapear a parede do cólon. “O filme ‘Viagem Fantástica’ é uma analogia muito aplicável a ele”, afirma Densel.

Existe mercado para o dispositivo. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, a colonoscopia reduz o número de mortes por câncer colorretal. Ainda assim, 65% dos norte-americanos com idades entre 50 e 75 anos estão em dia com o exame. “Queremos dar às pessoas outra opção de exame, que pode melhorar a experiência do paciente e resultar em mais pessoas sendo examinadas”, afirma Densel.

Após demonstrarem a prova de conceito, Kimchy e sua equipe decidiram-se por uma cápsula plástica com 3 centímetros de comprimento e 11 milímetros de espessura. Ele carrega uma fonte de raios X, detectores de fótons, um acelerômetro, um microchip especial, um transmissor de rádio, uma bateria e outros componentes.

Não há necessidade de eméticos antes do exame. No entanto, os pacientes precisam tomar uma colher de sopa de uma solução de meio de contraste para exames radiológicos, como o produzido pela GE Healthcare chamado Omnipaque, três vezes por dia. “Se você fizesse uma preparação padrão para colonoscopia e esvaziasse o intestino, a cápsula não funcionaria adequadamente”, conta Densel. “O Omnipaque se mistura com o conteúdo intestinal e cria uma demarcação da parede do cólon que pode ser mensurada.”

A posição e os movimentos da cápsula são rastreados continuamente conforme ela viaja pelo corpo. Ela faz imagens apenas quando está no cólon e em movimento, o que evita a repetição do escaneamento de uma mesma área e minimiza a exposição aos raios X.

Depois, um transmissor de rádio envia as informações para um pequeno gravador de dados preso às costas do paciente. “Podemos triangular em qual lugar do cólon a cápsula está e fazer um mapa da parede”, afirma Densel. “Quando encontramos um elemento que parece ser um pólipo, sabemos onde ele está.”

Quando a cápsula sai do corpo, o paciente devolve os rastreadores com os dados ao médico para análise. De acordo com Densel, a cápsula é projetada para utilizar uma fonte de raios X com meia-vida curta, de forma que não precise ser recuperada ao concluir sua jornada.

A Check-Cap, que existe desde 2005, agora está programando ensaios clínicos nos Estados Unidos e na Europa a fim de mensurar a eficácia da tecnologia. “Vamos ver como a cápsula se saiu em comparação com o exame de fezes imunoquímico, que é comum na Europa, e com a colonoscopia, que representa 90% dos exames nos Estados Unidos”, diz Densel.

A empresa está colaborando com a GE Healthcare, que produz fontes de radiação para a indústria de medicamentos e dispositivos médicos, a fim de criar um conjunto de processos de manufatura e distribuição que possibilite que a Check-Cap aumente a produção e atenda ao mercado global.