CEO da Accenture explica como o trabalho de consultoria pode aumentar a competitividade das empresas

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Roger Ingold é  presidente da Accenture para o Brasil e América Latina desde 2004, contribuindo para que as operações brasileiras sejam um modelo para os demais países emergentes. Nesta posição, também coordena a execução das estratégias de negócios nos diversos países da região.

Com a experiência de ter assessorado empresas de diversos setores desde 1981 quando ingressou na Accenture, Roger avalia que o trabalho de uma consultoria é promover os processos de transformação, visando aumentar a produtividade, a competitividade e o posicionamento global das organizações.

Nesta entrevista, Roger destaca, entre outros pontos, que as empresas bem geridas apresentam certas características em comum, como foco em gestão, benchmarks e disciplina na execução, fatores estratégicos para a melhoria de desempenho.

Como é o trabalho da Accenture? Em quantos países ela atua? Qual o seu tamanho?

A Accenture é uma empresa global de consultoria de gestão, serviços de tecnologia e outsourcing, com mais de 293.000 profissionais atendendo a clientes em mais de 120 países. A companhia teve receitas líquidas de US$ 28,6 bilhões no ano fiscal encerrado em 31 de agosto de 2013.

O que o mercado brasileiro representa estrategicamente para a Accenture?

O mercado brasileiro está entre os seis – sete mais importantes do mundo para a Accenture. Estamos no Brasil há aproximadamente 40 anos o que torna nossa operação no País bastante madura. Temos uma operação completa cobrindo cinco áreas de negócios globais e todas as competências para entregar soluções aos nossos clientes.

Somos aproximadamente 10 mil pessoas, com destaque para as posições de liderança, ocupadas majoritariamente por brasileiros. Isso é importante para auxiliarmos clientes brasileiros em diversas partes do mundo, para onde “exportamos” executivos qualificados para atuar em todos os mercados.

Como é o trabalho de consultoria?

O trabalho de consultoria consiste, em linhas gerais, em revisar a estratégia e os processos do negócio para conduzir, em conjunto com o cliente, as transformações em busca do aumento da competitividade e da melhoria da performance pelas organizações.

Para executá-lo, é preciso conhecer muito bem todos os setores da economia e cada uma das áreas onde o cliente atua, além do próprio ambiente interno, com seus processos e seus profissionais. Também é preciso ter conhecimentos de benchmarks mundiais e aplicar as tecnologias que assegurem uma operação sustentável. Ao mesmo tempo, preparar as pessoas dentro das organizações para que essas transformações produzam os resultados desejados.

Atualmente, o trabalho de consultoria não é mais de diagnóstico e papel. A Accenture está preparada para ir além da estratégia e realizar a gestão e a execução das mudanças, juntamente com o cliente. É o que chamamos de “end-to-end”, ou seja, estamos preparados tanto para diagnosticar os pontos que podem ser melhorados como para executar as mudanças.

Quais os setores que mais demandam um trabalho de consultoria?

Qualquer organização de qualquer setor da economia pode demandar a contratação de uma consultoria para melhorar sua performance. Na Accenture atuamos com cinco grupos principais de atividade: consumo, varejo e manufatura; telecomunicações e alta tecnologia; energia e recursos naturais; financeiro e seguradoras e o setor público e de saúde. Nosso foco é nas G2000 – as duas mil maiores empresas do mundo.

Existe algum problema que costuma ser comum nas empresas do Brasil?

É difícil generalizar, mas a gestão é um fator crucial, tanto em organizações privadas, quanto públicas no Brasil. Esta é uma atividade com potencial enorme de atuação. Outros pontos que podem ser destacados são a disciplina na execução das estratégias e processos e a atenção à produtividade, que, no Brasil, está muito aquém em relação aos players mundiais.

O que a Accenture identifica como mais atual acontecendo nas empresas?

O que acontece neste momento é uma revolução na área digital que vai mudar a relação das empresas com seus consumidores e clientes e até mesmo com a própria gestão das empresas. Em pouco tempo, todo business será um business digital.

Muitas organizações já entenderam essas mudanças e têm se movimentado para acompanhar as drásticas mudanças nos modelos de negócio. E, como acontece em toda mudança estrutural, todos os processos de transformação acabam passando, de um jeito ou de outro, pela tecnologia, o que requer conhecimento especializado para implantar as soluções mais adequadas para cada empresa se reinventar e continuar atuando com alta performance.

Você entrou na Accenture como estagiário e hoje ocupa a presidência. Como foi esse caminho?

Eu comecei minha carreira estagiando na Accenture pelas possibilidades que a atividade de consultor oferecia. Como Engenheiro de Produção, sempre acreditei na possibilidade de melhorar a performance das empresas.

Em uma consultoria você pode passar por quatro ou cinco clientes, de diferentes segmentos, a cada ano, enriquecendo seu conhecimento e exercendo todo o seu potencial. Ao longo de 30 anos de carreira, a quantidade de clientes com os quais trabalhei, e as oportunidades que tive foram muito maiores do que seria se tivesse trabalhado em empresas normais, onde você acaba, naturalmente, delimitando sua atuação em uma ou algumas áreas apenas.

Quais as maiores dificuldades para se crescer dentro de uma empresa?

Em uma empresa como a Accenture você tem muitas oportunidades de crescer, com base no seu próprio esforço. Você cresce nas equipes, acompanhando todos os colegas. Nós não trabalhamos com produtos e sim com talentos, com gestão e com gente com boa formação profissional. No fundo, somos um grande laboratório de profissionais com uma estrutura muito bem montada de carreira.

Em uma empresa como a nossa, temos dois segredos: você precisa ser relevante para os seus clientes e ser relevante com as pessoas que trabalham com você, inspirando novos times que vão formar as próximas gerações.

Qual conselho você daria a um jovem em início de carreira?

É preciso estar muito bem preparado profissionalmente, pois enquanto se está dormindo, alguém está se preparando para tentar ser mais relevante. O mercado, atualmente, não permite improvisação e no mundo empresarial só se dá bem quem se prepara.

As dicas são simples: procurar ser relevante e tentar fazer um pouco mais do que foi pedido; estar sempre pronto para assumir mais responsabilidades, ter um compromisso genuíno em contribuir com o sucesso de uma área e saber medir o resultado que seu trabalho pode gerar para os clientes.

Você também é presidente do Lide Inovação e esteve duas vezes em Israel. Como foi essa experiência? O que você viu em Israel que poderia ser aplicado no Brasil?

O Lide Inovação busca envolver empresas, universidades e o governo, com a proposta de criar uma agenda que aproxime as partes em prol do desenvolvimento de todos. Israel é o melhor destino para quem busca ideias inovadoras e empreendedoras. Lá as pessoas têm um DNA de resiliência, de perseverança e de luta. Este é um ponto fundamental.  É um país sem recursos naturais e que se superou investindo em cérebros.

Fiquei muito impressionado ao visitar a Yissum, companhia de transferência tecnológica da Universidade Hebraica de Jerusalém, responsável pela comercialização das invenções e do know-how gerado por pesquisadores e estudantes de renome daquela Universidade. Posso dizer que nunca vi nada parecido por aqui.  Este é um grande exemplo de conexão entre a Universidade e o mundo privado que poderia inspirar iniciativas aqui no Brasil.

Qual o papel que a Câmara Brasil Isael desempenhou para aproximá-lo do tema da inovação naquele país?

Durante a Missão do Lide a Israel, a Câmara organizou um jantar com empresários israelenses. Posso dizer que nunca fui tão assediado em toda minha vida empresarial. Todos sabiam quem eu era, o que eu fazia, e tinham uma maneira “agressiva” de se aproximar, querendo fazer negócios.

Claramente resultado de um trabalho prévio da Câmara Brasil-Israel e do Lide, apresentando os perfis dos visitantes e das organizações que eles representam. Algo de grande importância em uma missão de negócios. Os empresários israelenses têm um senso empreendedor que você não encontra em nenhum outro lugar do mundo.

Posso afirmar que a maior lição que tive em Israel foi conhecer a audácia do próprio povo israelense e de como cada um tenta fazer o seu próprio negócio e ainda criar algo novo.  Penso que devemos nos espelhar neste grande exemplo e quebrar paradigmas.