Camisetas absorventes Mianzi para necessidades especiais

Um empresário israelense utilizou um tecido orgânico de algodão com fibra de bambu para produzir camisetas de secagem rápida com uma camada interna para absorver a saliva.

Certa feita, Nachum Kligman observava o filho Moishy voltando da escola em Jerusalém. Ele ficou se perguntando por que Moishy, que tem paralisia cerebral, estava de babador, mesmo não sendo horário das refeições.

“Então eu lembrei que ele precisa usar o babador o dia inteiro porque ele baba muito”, conta Kligman. “Um garoto de 10 anos não deveria andar por aí com um babador.”

Kligman acaba de completar com sucesso uma campanha de arrecadação de fundos em crowdsourcing para a fabricação das camisetas Mianzi, a sua resposta peculiar para o problema. Um total de 509 apoiadores contribuíram com mais de US$ 25 mil – US$6 mil a mais do que o objetivo estabelecido.

As camisas devem ser produzidas na China com 70% de fibra de bambu e 30% de algodão orgânico. Mianzi significa “bambu” em swahili e “uma face de dignidade e prestígio” em chinês.

Elas não são apenas para crianças – muitos idosos também se babam em decorrência de doenças como o Mal de Parkinson – e não são apenas para as pessoas com necessidades especiais.

“Para as pessoas com problema para controlar a baba, adicionamos uma camada extra de material na parte interna das camisetas em toda a área em volta do peito”, explica o empreendedor e pai de seis filhos. “A solução funciona para manter os nossos clientes mais importantes secos e confortáveis. Além disso, temos botões nos ombros para facilitar a colocação e retirada da camiseta.”

Kligman, que emigrou em 2002 de Passaic, Nova Jersey, para Beit Shemesh, em Israel, explica que a sua ideia original era criar uma camiseta que o filho pudesse usar com conforto e dignidade.

“Mas as camisetas ficaram tão bonitas e confortáveis que eu decidi vendê-las em lojas comuns, acompanhando uma nota que informa que elas estavam também à venda com um forro interno para pessoas com necessidades especiais.”

As versões com forro o botões serão vendidas no varejo especializado em produtos para a população com necessidades especiais. Ambas as versões, com modelos masculinos e femininos, estarão disponíveis no mundo inteiro por meio do site da Mianzi, que agora centraliza pedidos apenas para atacadistas.mianzi

O primeiro lote fabricado será suficiente para o envio de camisetas para aos doadores, alguns dos quais vivem em Helsinki, Coreia do Sul, Austrália, Suíça e França, além da América do Norte e Israel.

“Ninguém tinha nada melhor”

Nachum e Michal Kligman tiveram o filho quando foram para Israel em seu primeiro voo fretado, com patrocínio da organização Nefesh B’Nefesh. Moishy, foi o primeiro filho de imigrantes daquele voo, na auspiciosa data de 11 de setembro de 2002.

“Nós decidimos nos mudar para Israel por causa do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001″, conta Kligman, 41 anos, que tem experiência profissional em marketing e publicidade.

Moishy não teve oxigênio suficiente no nascimento, o que gerou a paralisia cerebral. Nos vídeos feitos para a campanha de lançamento das camisetas Mianzi, filmado pelo cineasta Brian Spector, Moishy parece ser uma criança feliz e sorridente. Ele fala pouco, mas compreende bem – a palavra “Mianzi” lhe causa risadas.

Moishy provavelmente não tem ideia de o quanto o projeto exigiu de trabalho. Seu pai, fundador de empresas como a Viewbix e SportsFan.me, começou pesquisando sites de produtos para necessidades especiais para ver se encontrava alguma ideia. Ele não encontrou absolutamente nada.

“Ninguém tinha nada além de um babador ou bandana”, conta ele. “Eu pensei: ‘e se o babador ficasse por baixo da camiseta para mantê-lo seco e com dignidade? E se eu encontrasse um material de secagem rápida, antibactericida, hipoalergênico, antiodor e macio para fazer a camiseta perfeita para alguém nessa situação?’”

Sua pesquisa o levou ao bambu, que tinha todas essas características e é também ambientalmente sustentável por ser colhido em florestas renováveis. Ele acrescentou o algodão orgânico para tornar as camisetas mais duráveis. O tecido pode ser lavado na máquina e é de uma malha absorvente.

Trazendo o luxo às necessidades especiais

Em seguida, Kligman encontrou uma designer de moda por meio do site guru.com. Tanya Blanding mora no Canadá e já colaborou com marcas que incluem Ralph Lauren, Ellen Fisher, Calvin Klein, Perry Ellis e Bill Blass.

“Eu precisava de alguém para transformar o projeto em algo que eu pudesse entregar à fábrica e dizer ‘façam isto’. Demorou sete ou oito meses porque o processo de escolha dos materiais e cores é longo.”

Kligman conta que escolheu lançar o Mianzi por meio do Kickstarter porque, além do aporte financeiro, a plataforma permite um veículo para pesquisa de mercado em tempo real.

“agora eu vejo como um produto que é necessário e desejado, além de já ter recebido pedidos de pré-produção”, conta ele. “O risco é muito menor e você ainda tem um feedback.”

Ele escolheu uma meta de US$ 19 mil para pagar pelo pedido mínimo de cada cor e estilo, com o suficiente para pagar Spector e Blanding. Mas ele também contribuiu com financiamento do próprio bolso e quatro investidores em potencial já o contataram.

Nos próximos meses, Kligman se reunirá com um advogado de patentes; voará para China para acompanhar a produção; montará um site de vendas; e iniciará o desenvolvimento de produtos adicionais do mesmo material – inicialmente, uma camiseta regata e um moletom com capuz e depois roupas de baixo, roupa de cama, calças de moletom ” e outros itens que levarão o luxo a pessoas com necessidades especiais e a todos”, conta Kligman.

Por enquanto, os pedidos serão atendidos por uma empresa de Nova Jersey, mas Kligman espera que a Mianzi cresça o suficiente para tornar viável o envio diretamente de Israel.