Ministério da Saúde quer ampliar cooperação com o país do Oriente Médio para viabilizar produção nacional de medicamentos biológicos, especialmente para doenças crônicas
A expansão de parcerias no campo dos medicamentos, insumos, vacinas e a inovação tecnológica pontuaram em Tel Aviv, nesta quinta-feira (2), as atividades da comitiva do Ministério da Saúde que está em Israel para expandir a cooperação econômica com o Brasil. Israel é hoje considerado o país com o maior volume per capita aplicado em desenvolvimento e inovação, e referência no desenvolvimento de medicamentos biológicos. Para discutir o assunto, o ministro da Saúde do Brasil, Alexandre Padilha, reuniu-se com o ministro da Economia, Naftali Bennett, e com a ministra da Saúde de Israel, Yael German.
O mercado de quase 200 milhões de brasileiros é o chamariz para novas Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDPs) no país. É por intermédio delas que o Ministério da Saúde vem adquirindo mais medicamentos a custo reduzido e, ao mesmo tempo, obtém a transferência de tecnologia internacional para laboratórios do Brasil. Hoje há 64 parcerias já constituídas e envolvendo laboratórios públicos e privados. Juntas, elas representarão por ano uma economia de R$ 2,8 bilhões aos cofres públicos na compra dos produtos.
“As empresas israelenses ainda não enxergaram o Brasil como mercado alvo, têm mantido cooperação normalmente com Europa Ocidental, Estados Unidos. Queremos transferir o peso dos mercados tradicionais para Brasil, China e Índia”, afirmou o ministro da Economia de Israel, ao conhecer os resultados da ação brasileira na área de medicamentos. As PDPs hoje existentes hoje englobam no Brasil a produção nacional de 61 medicamentos e de seis equipamentos.
Segundo o ministro da Saúde do Brasil, o foco agora são os medicamentos biológicos, especialmente os de aplicação contra doenças crônicas. Padilha participou ontem de visita técnica à fábrica da Protalix, empresa israelense atraída pelo Ministério da Saúde para transferir uma plataforma biotecnológica de base vegetal (expressão DNA recombinante em células de cenoura e tabaco). Com essa empresa, foi estabelecida PDP com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para fabricação de tratamento para a doença de Gaucher e outras doenças raras. A Fiocruz investirá R$ 170 milhões em uma planta fabril no Ceará para a produção do medicamento no Brasil. A tecnologia do país do Oriente Médio ganha em competividade pelo baixo-custo dos processos produtivos, alto rendimento e risco zero de contaminação viral.
“Os medicamentos biológicos representam hoje 4% do que o Ministério da Saúde compra, mas ao mesmo tempo 40% do orçamento do ministério para compra de medicamentos. São produtos extremamente caros”, ponderou Padilha. “Então, a ideia é de aproveitar a janela de vencimento próximo de patentes de medicamentos para colocar no Brasil uma alternativa como essa, que garante acesso a produtos de alta tecnologia com menores custos”.
A previsão é de que no segundo semestre o medicamento já esteja disponível para os pacientes brasileiros no âmbito da parceria. A economia para os cofres públicos, somente nesta PDP, é de mais de R$ 50 milhões por ano.
CÉLULAS VEGETAIS – Na Protalix, Padilha detalhou o processo de fabricação in loco com o presidente da empresa, David Aviezer. É a primeira biotecnologia de base vegetal que obteve registro na FDA (agência regulatória americana) e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em todo o mundo.
“Este processo marca a atual orientação da política de inovação em saúde, que alia o domínio de tecnologias de fronteira, com a busca do acesso universal e integral e com o desenvolvimento regional. É o primeiro projeto do parque tecnológico de inovação e saúde a ser criado no Nordeste, no estado do Ceará”, reforça o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha.
Em Tel Aviv, o ministro também se reuniu com o presidente e CEO da TEVA, Jeremy Levin. A empresa é a maior fabricante de genéricos do mundo. O recente programa lançado para a aplicação de US$ 4 bilhões pelo governo brasileiro na inovação tecnológica também foi apresentado. É um projeto que articula financiamento e poder de compra do Ministério da Saúde para o desenvolvimento nacional.
O foco da interação se voltou para estimular a contribuição da TEVA na produção de princípios ativos no Brasil, em parceria com instituições nacionais. A ação visa reduzir o déficit comercial brasileiro, que hoje está em US$ 5 bilhões/ano somente com esse segmento produtivo.
GRANDES EVENTOS – No encontro da comitiva com a ministra da Saúde de Israel, outro destaque foi a preparação do Brasil para eventos futuros, como a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. A comitiva visitou o Centro de Simulação de Israel, onde mais de 6 mil pessoas já foram treinadas para agir em situações de risco ou crise. O ministro Padilha prevê que esse tipo de treinamento possa ser aplicado com equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e nas urgências e emergências de hospitais.
Com vistas a essa preparação, a Força Nacional do SUS já capacitou 300 profissionais em 2012 e mais 1.000 serão capacitados em 2013 para atuar em grandes eventos, situações de calamidade, desastres e desassistência. O Ministério da Saúde ainda dispõe de um plano de capacitação, executado com o apoio dos hospitais de excelência. A primeira aplicação será na Copa das Confederações, este ano.
Ainda é prevista a capacitação de 1.600 médicos e enfermeiros nas diretrizes do Protocolo de Atendimento Hospitalar em IAM (Infarto Agudo do Miocárdio), AVC e Trauma, e treinamento de 4 mil médicos e enfermeiros no atendimento de emergências cardiovasculares. Já foram capacitados 1.763 profissionais e outros 2.493 estão em treinamento.
Também participam da missão a Israel o chefe Assessoria Internacional do Ministério da Saúde, Alberto Kleiman, e o assessor da presidência da Anvisa, Ivo Bucaresky.