A aposta em salgadinhos saudáveis despertou clientes lá fora

O que você vê na foto acima são os empreendedores David Sinder, Felipe Dorf e Jonathan Grin. Para entender por que a trinca de sócios vai faturar R$ 6 milhões neste ano, enfrentando cachorros grandes como a Pepsico, é preciso uma breve regressão.

A inserção das mulheres no mercado de trabalho na década de 1960 transformou a sociedade em diversos aspectos, e um deles foi a alimentação.
O papel de preparar a comida para família foi substituído por refeições mais práticas.

As empresas de alimentos, atentas a essa mudança, começaram a vender linhas de comidas enlatadas e prontas, que pareciam ser a solução perfeita de conveniência para a falta de tempo. Na refeição fora do lar, os fast foods ocuparam esse espaço.

Com passar das décadas, a conta chegou. A dieta rica em sódio, gordura e açúcar aliada ao sedentarismo foi responsável pela proliferação da obesidade em diversos países, inclusive no Brasil.

De acordo o Ministério da Saúde, 52,5% dos brasileiros estão acima do peso -um aumento de 1,7% em relação a 2013. Eram 43% da população em 2006.
Mais relevante que fatores estéticos, o sobrepeso aumenta o risco de se desenvolver hipertensão e diabetes.

Diante dessa realidade social, surgiu uma nova geração de profissionais preocupados com alimentação saudável -entre os expoentes internacionais está o chef de cozinha Jamie Oliver.

No Brasil, a apresentadora Bela Gil virou uma espécie de embaixadora dessa filosofia.

Esse movimento não se concentra no emagrecimento, como ocorreu na onda dos produtos lights e diets, mas visa estimular o consumo de alimentos que contêm nutrientes, façam bem para saúde e sejam naturais. Mais do que uma tendência, representa uma mudança de comportamento.

ROOTS TO GO
A Roots to Go (raízes para levar, em tradução livre) é uma das empresas que perceberam essa mudança de hábitos dos consumidores.

O fundador Felipe Dorf, intolerante à lactose e ao glúten, tinha dificuldade de encontrar produtos que atendessem a sua demanda. Em 2013, à frente de um restaurante, ele começou a fazer os primeiros experimentos para criar salgadinhos.

Durante uma feira de alimentos nos Estados Unidos, ele fez o contato com um distribuidor americano, que demonstrou interesse em comercializar salgadinhos brasileiros.
Desse primeiro cliente, nasceu a Roots to Go, que fabrica chips de raízes, como cará e batata-doce.

Em pouco tempo Dorf, encontrou uma fábrica em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, para atender suas encomendas.

Os produtos foram desenvolvidos para manter as proteínas e nutrientes dos alimentos e para ser mais saudáveis do que salgadinhos tradicionais.

Além dos pedaços de vegetais, na fórmula há também sal light –com menor quantidade de sódio. A primeira leva foi bem-sucedida e mais pedidos começaram a chegar dos Estados Unidos.

Resultado de um acordo feito com a indústria, o Brasil já conseguiu reduzir 14.893 toneladas de sódio em alimentos processados.

Mas ainda está a meio caminho da meta estabelecida em 2011, que prevê redução de até 28.562 toneladas até 2020.

A Pepsico, dona da marca Elma Chips foi pioneira entre as empresas globais, ao lançar metas de produção de salgadinhos contendo menos sal, menos açúcar e pouca gordura saturada. Tudo para se converter em uma empresa de itens saudáveis em alimentação.

No caso da Roots to Go, com o crescimento da produção apareceram os primeiros problemas: a qualidade dos vegetais oscilava muito, além disso, os preços mudavam frequentemente. Esse dois fatores afetavam significativamente o produto final.

Dorf decidiu arrendar terras e começar a plantar produtos orgânicos para, dessa forma, garantir a procedência e o valor do produto.

Hoje, os produtos da Roots to Go ganharam um selo que atesta que os alimentos são livres de agrotóxicos.

Eles também têm um certificado que assegura que os salgadinhos são Kosher, ou seja, que obedecem aos preceitos das leis judaicas.

Enquanto as raízes cresciam na fazenda da empresa, os petiscos saudáveis começaram a ganhar espaço nas prateleiras dos supermercados e de pontos de venda no Brasil, como cafeterias e lanchonetes.

A empresa também fechou acordo com a rede Pão de Açúcar e criou um produto exclusivo e mais sofisticado para esse cliente, chamado Teva.

A Roots to Go está, hoje, em 16 estados brasileiros. E, recentemente, fechou um contrato com uma rede de supermercados israelense. A empresa também estuda expandir para os mercados canadense, uruguaio e australiano.

A linha de produtos está em crescimento, constituída por 13 salgadinhos diferentes. Para o próximo ano, a empresa já estuda a criação de novos sabores.

Mas manter uma alimentação saudável tem seu preço. O valor médio dos produtos nas prateleiras varia entre R$ 3,50 e R$ 6,50.

“Nossos produtos são mais caros que os salgadinhos convencionais”, afirma David Sinder, sócio e diretor de marketing da Roots to Go. “Mas as pessoas estão mais conscientes em relação ao que consomem e estão dispostos a pagar um pouco mais por alimentos de qualidade.”

Os números refletem isso. O faturamento de 2016 será de R$ 6 milhões – três vezes maior do que o ano anterior. As exportações são responsáveis por 25% desse total.