Trânsito difícil? A otonomo fornece dados para uma direção tranquila

A equipe otonomo. (Foto: Omer Hacohen e cortesia da otonomo)

Em 2020, cerca de 250 milhões de carros em todo o mundo – ou 1 em cada 5 – terão conexão sem fio, de acordo com a empresa de pesquisa e consultoria Gartner. Todos esses carros conectados produzirão uma enorme quantidade de dados, com sensores e câmeras medindo e gravando tudo, desde o tráfego e o tempo até o desempenho do combustível e do carro. Eles acompanharão seu caminho, velocidade, quilometragem e estações de rádio favoritas, e saberão se você parar para tomar um café ou usar um fone de ouvido com Bluetooth.

Espera-se que os dados gerem receitas cada vez maiores para os fabricantes de automóveis à medida que criam e vendem mais. Mas como os dados proporcionarão experiências de condução melhores para os motoristas? Como as montadoras vão cumprir as leis de privacidade globais, explorar gigabytes de dados brutos e criar algo valioso e inovador?

É aí que entra a startup israelense otonomo. Cofundada pelo CEO Ben Volkow em 2015, a otonomo criou um mercado que permite que fabricantes de automóveis, provedores de serviços e desenvolvedores de aplicativos troquem os dados do carro de forma fácil e segura. A empresa opera nos Estados Unidos, Europa e Japão; captou US$ 25 milhões no ano passado do total de US$ 40 milhões de fundos angariados; cresce rapidamente com mais de 55 funcionários; e está envolvida com nove fabricantes de carros, que incluem a Daimler.

Com uma plataforma rodando no Microsoft Azure, a otonomo coleta de 20 a 500 dados por minuto de cada carro – um total de dezenas de gigabytes por hora – e coloca à disposição de serviços de emergência, aplicativos de estacionamento, companhias de seguros, cidades inteligentes, financeiras, varejistas, concessionárias e muitas outras organizações. No AutoMobility LA, em Los Angeles, há algumas semanas, Volkow, um verdadeiro empreendedor, conversou sobre o papel da otonomo e como os dados estão revolucionando a forma como nos movemos.

Microsoft – Como os dados do carro ajudam as empresas e levam a experiências de direção melhores, mais seguras e mais produtivas?

Volkow – As pessoas estão começando a esperar a mesma experiência do smartphone no console do carro. As montadoras entendem que, criando um ecossistema de serviços e aplicações no carro, proporcionam uma experiência melhor de condução para os clientes. Se o carro tiver um aplicativo que o ajude a encontrar um estacionamento, será um veículo melhor. Se tiver um aplicativo de emergência que literalmente salve sua vida, será um carro melhor.

Há uma tendência de as companhias de seguros fixarem preços de acordo com a sua quilometragem ou estilo de condução. Para fazer isso, são necessários os dados do carro. Você obtém um desconto se compartilhar os dados do seu carro e pagar de acordo com a sua quilometragem e estilo de condução. Colaboramos com as seguradoras na obtenção dos dados que precisam para ajudar os motoristas a conseguirem os melhores planos.

Também podemos ajudar com a manutenção preditiva. Os dois principais motivos para os carros ficarem encostados no meio da estrada são a falta de combustível e uma bateria arriada. Isso custa muito dinheiro às companhias de seguros, porque precisam enviar um caminhão de reboque.

Usando dados do carro em tempo real, podemos identificar, por exemplo, se sua bateria está prestes a morrer e facilitar a vida da seguradora enviando um alerta para que providencie uma nova bateria, evitando que você fique na mão. Isso representa uma economia para as seguradoras e impede que você fique muito tempo esperando na estrada.

Trabalhamos também com bancos que desejam conhecer os gastos dos clientes. Se você usa seu cartão de crédito, eles já conhecem seus padrões de consumo. Mas e se você tiver dois cartões de crédito? Podemos compartilhar que você parou em determinado posto e quantos litros de gasolina colocou no carro. Também podemos ajudá-los a entender se você parou em um drive-thru do McDonald’s ou em outros lugares.

Os dados colaboram com a publicidade contextual. Por exemplo, na próxima vez que você estiver com pouco combustível, é possível receber um cupom que o guie para um posto de gasolina parceiro.

Por fim, cidades inteligentes podem usar os dados do carro para sinalizar faróis e entender o efeito de diferentes velocidades. Obtemos informações sobre a suspensão da roda, o freio, a aceleração e a localização, para que as cidades possam saber se há lugares perigosos na estrada e consertá-los.

Por que os fabricantes de automóveis dão seus dados à otonomo? Eles e outras empresas não poderiam apenas trocar dados diretamente?

Volkow – Extrair dados do carro é muito caro e complexo. Você precisa de uma infraestrutura em nuvem e há desafios técnicos e comerciais para as montadoras e serviços de automóveis que desejam os dados.

Por exemplo, dados de combustível. Alguns fabricantes usam galões; outros usam litros. Alguns medem por porcentagem usada; outros por percentuais de uso restante. Alguém precisa normalizar os dados, porque os serviços não podem digerir 40 idiomas e formatos.

Tudo o que está acontecendo na nova indústria automobilística – condução autônoma, carros autodirigidos e mobilidade compartilhada – é baseado em dados. Os dados são o futuro. Concordo com a frase “os dados são o novo petróleo”, mas alguém precisa retirar os dados do campo petrolífero, refiná-lo, distribuí-lo, torná-lo anônimo, precificá-lo e garantir que o óleo certo vá para o carro certo. É aí que a otonomo entra em jogo.

Como você lida com leis de privacidade globais?

Volkow – Para começar, estamos no caminho para cumprir o Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia, que entrará em vigor em maio.

Cada país tem seus próprios regulamentos com relação aos dados do carro e cria muitas camadas complexas de restrições. Além de facilitar, garantimos a segurança para as fabricantes com milhares de regras configuradas em nosso sistema.

Nos Estados Unidos, as seguradoras não têm permissão para obter a localização do carro. Por quê? Para evitar discriminações entre bairros “bons” e “ruins”. Na Alemanha, não é permitido compartilhar os primeiros 30 segundos de dados do GPS, porque isso afeta a privacidade. Na França, as companhias de seguros não têm permissão para obter o carimbo de data/hora com dados.

Esse é um exemplo que acho muito interessante: digamos que existe um carro alemão na Bélgica conduzido por uma mulher italiana cujo namorado britânico é o dono do carro, e os dados estão indo para os EUA. Por sinal, a fabricante de automóveis não é a dona dos dados, o consumidor é; a fabricante é apenas a guardiã.

Quais são as leis aplicáveis? Sei que esse é um exemplo engraçado, mas demonstra que entender os dados e as leis pode ser muito complexo.

Falando de privacidade, qual a sua resposta aos consumidores preocupados com o rastreamento e a monetização dos dados de seus carros e comportamentos de direção?

Volkow ­– A boa notícia é que existem muito mais restrições nos dados do carro em comparação com os dados do telefone e do computador sobre como eles são usados. Mas os motoristas obtêm benefícios ao compartilhar seus dados: para citar alguns, eles recebem um seguro mais barato, serviços de emergência que podem salvar vidas e ajuda para encontrar estacionamento, economizando tempo.

Se voltarmos cinco anos atrás, quando descobrimos que alguém pode ver o que estamos fazendo com o nosso smartphone, ficamos assustados. Hoje, vivemos bem com isso. Mas me pergunto se teremos essa mesma discussão em cinco ou seis anos sobre os dados do carro e diremos que é apenas parte da vida. Penso que, no final, nos acostumaremos com isso.