Startup israelense quer fazer um deepfake seu e vender para empresas

A startup israelense Hour One, especializada em soluções baseadas em inteligência artificial (IA), está buscando pessoas reais para criar as suas versões “deepfake” – nome dado à “mídia sintética” onde uma pessoa em uma imagem ou vídeo já existente é substituída pela aparência de outra, com assustadora precisão.

“Nós já temos uma fila de pessoas que estão morrendo de vontade de se tornarem esses personagens”, disse a Chefe de Estratégia da Hour One, Natalie Monbiot, ao Technology Review. Segundo ela, a empresa já conta com cerca de 100 “personagens” – modelos deepfake criador a partir de rostos reais – e almeja expandir seu portfólio.

O intuito desses “clones virtuais” é o de oferecê-los a outras empresas, para que elas os usem em suas atividades comerciais. Imagine, por exemplo, um comercial de margarina exibido no intervalo da novela das 21h, com seu rosto na tela, mas não foi você quem o filmou. Segundo a Hour One, a ideia é oferecer os “personagens” apenas para fins de marketing e/ou educacionais.

De acordo com Monbiot, atualmente, a empresa tem 80% de seus personagens abaixo dos 50 anos de idade, sendo 70% mulheres e 25% brancos. Mas a chefe de estratégia explica que o objetivo é ampliar esse espectro, “aceitando gente que reflita todas as idades, gêneros e históricos raciais do mundo real”.

Em seu trabalho, a startup israelense cria um deepfake por meio de câmeras 4K que filmam você por todos os ângulos, realizando ações simples como falar ou exibir expressões faciais variadas em frente de uma tela verde (chroma key, para os técnicos de audiovisual). Depois disso, vem a integração das capturas com o software de IA, o qual, segundo a Hour One, pode criar vídeos daquela pessoa “dizendo qualquer coisa, em qualquer idioma”.

No que tange à voz, a Hour One oferece dois formatos: um modelo padrão cria um voz sintética por meio de softwares de transcrição de texto para áudio (similar ao que o Google Tradutor faz quando você quer “ouvir” a pronúncia de uma palavra). Uma versão mais premium – com cobranças adicionais – assegura a contratação de um dublador profissional, dando um tom mais realista.

Embora a Hour One tenha um código de conduta que a mantém em xeque “100% do tempo”, segundo Monbiot, a mera menção à palavra “deepfake” não falha em trazer à tona os episódios mais nefastos dessa tecnologia: o mais óbvio é o uso do recurso para criar “falsos nudes” (como visto em um bot do Telegram, em 2020; e o app DeepNude, em 2019).

Há também casos de violação competitiva, como a mulher que foi presa nos EUA após criar deepfakes de concorrentes de sua filha, em uma competição de líderes de torcida. As criações veiculadas mostravam as outras competidoras nuas, em situações de cunho sexual ou consumindo drogas.

Felizmente, há também ótimos exemplos do uso de deepfakes: na Flórida, um museu dedicado ao pintor surrealista Salvador Dalí usa um deepfake do finado artista para “participar” das exposições junto do público. Mais recentemente, um deepfake do ator Mark Hamill, que hoje tem 69 anos, foi usado na série “O Mandaloriano”, da Disney+, para rejuvenesce-lo e melhorar sua aparência e voz.

Hoje, empresas de tecnologia conduzem pesquisas variadas a fim de coibir o mau uso dos deepfakes, identificando possíveis casos de emprego criminoso da tecnologia, como disseminação de fake news e outros problemas comuns às redes sociais.

Nesse ínterim, a startup israelense Hour One encontrou um produto de nicho interessante com o mercado deepfake: vender a sua imagem sem necessariamente trabalhar com você a todo tempo. O modelo de pagamentos praticado pela empresa aos seus “atores” não foi explicado na matéria do Technology Review (se é um pagamento único pelo licenciamento de sua imagem, por exemplo, ou se há algum acordo de direitos pagos de forma recorrente), mas seus mais de 40 clientes parecem estar satisfeitos com o trabalho.

Fonte: Olhar Digital