A MeMed, baseada em Haifa e fundada em 2009, recebeu dezenas de milhões em investimentos e prêmios para desenvolver dois produtos iniciais: o ImmunoXpert, agora usado em hospitais na União Europeia, Suíça e em Israel para determinar rapidamente se uma infecção é bacteriana ou viral; e o ImmunoPoC, uma versão point-of-care que ainda não está disponível no mercado.
Como muitas vezes os médicos não podem determinar a causa da infecção, muitos deles prescrevem antibióticos para permanecerem no lado seguro, porém especialistas acreditam que até 50% dos tratamentos com medicamentos antibióticas são desnecessários ou inapropriados. Além disso, o uso excessivo de antibióticos é o maior desencadeador de variedades resistentes a medicamentos que, estima-se, matam aproximadamente 50.000 pessoas por ano na Europa e nos EUA.
O ImmunoXpert interpreta sinais químicos do próprio sistema imunológico do corpo para distinguir, com mais de 90% de precisão, infecções bacterianas de virais, habilitando médicos a tomarem decisões mais conscientes. A análise israelense foi validada em estudos clínicos envolvendo milhares de pacientes ao redor do mundo. Testes complementares de validação multicêntricos estão em andamento.
O diretor-executivo da MeMed, Eran Eden, era um estudante de doutorado no Instituto Weizmann de Ciência quando começou a discutir o problema do uso excessivo de antibióticos com seu ex-colega de classe Kfir Oved, então estudante de medicina no Instituto de Tecnologia de Israel Technion-Israel. Inicialmente, eles se sentaram na mesa da cozinha da avó de Oved, em Ramat Gan, para ponderar como superar as deficiências dos métodos de diagnóstico atuais. “Há culturas que levam dias e há testes rápidos para infecções, como para faringite estreptocócica, que requer acesso ao local de infecção. Nem sempre isso é possível, por exemplo, com relação a infecções do trato respiratório, como pneumonia”, afirmou Eden. Ele observa que infecções respiratórias em crianças representam quase metade de todas as visitas a médicos e internações.
Mesmo quando um micro-organismo pode ser identificado, ninguém sabe se ele realmente causou a infecção ou se simplesmente era parte da flora natural do corpo. “Percebemos que outros agentes têm trabalhado por muitos anos para superar esses desafios, enquanto éramos apenas dois caras em uma cozinha”, diz Eden. “Precisávamos encontrar uma vantagem; um ângulo diferente”. Ao invés de tentar acessar e isolar o patógeno, os sofisticados biosensores e algoritmos do ImmunoXpert decodificam as diferentes respostas do sistema imunológico à infecções bacterianas e virais. O kit também pode informar se os sintomas não são causados por infecção alguma.
Os resultados ficam prontos em 99 minutos (a versão da segunda geração reduzirá esse tempo para 15 minutos), mesmo para infecções inacessíveis. O teste não é desorientado por bactérias inofensivas que não tenham ativado o sistema imunológico. Também não há necessidade de ajustar a tecnologia a novas epidemias, como os métodos atuais de diagnóstico requerem, uma vez que o sistema imunológico faz isso naturalmente. “O problema de alguns trilhões de dólares relacionado ao uso excessivo de antibióticos, que deu origem a bactérias resistentes, requer mais do que uma solução, e podemos fazer parte disso”, explica Eden.
Após inicialmente dispensar o projeto da MeMed como sendo impossível, investidores e especialistas da área médica parecem concordar. A MeMed arrecadou um valor não revelado com empresas de capital de risco de primeira linha, abrangendo desde empreendimentos Social+Capital no Vale do Silício até a Horizon Ventures chinesa. A empresa recebeu grandes prêmios e financiamentos de entidades, incluindo a Comissão Europeia, que recentemente concedeu € 2,3 milhões a um consórcio internacional que coordena o desenvolvimento do ImmunoXpert na Europa. Esta atribuição somou-se ao prêmio de € 3 milhões de uma competição de start-ups de biotecnologia, em junho de 2015, na Europa, e a uma concessão de € 6 milhões para o desenvolvimento e validação da assinatura hospedeira subjacente ao ImmunoXpert.
A MeMed está direcionando grande parte dos prêmios em dinheiro a estudos clínicos na Europa, cada um envolvendo milhares de pacientes, para posterior validação da precisão do ImmunoXpert em diferentes idades e diferentes tipos de infecção. Oved, o diretor de Tecnologia, destacou que a MeMed está alguns anos à frente de seus concorrentes. “Estamos bem posicionados neste cenário, mas somos uma empresa modesta e sempre tentamos ver o que os outros estão fazendo para aprender com eles. Para nós, a melhor forma é criar uma grande ferramenta, suportada por muitas comprovações”.
As ferramentas adicionais da MeMed são planejadas para o futuro. “Criamos um know-how exclusivo pelo lado clínico e pelo lado molecular e de bioinformática. Agora podemos aplicá-lo de outras formas para melhor gerenciar doenças com base na resposta do sistema imunológico”, afirma Eden. Após os mercados europeu, asiático e norte-americano, a MeMed visa expandir para a América Latina, começando pelo Brasil. “Bactérias não respeitam fronteiras, e queremos chegar a tantos lugares quanto possível”.
Fonte: Blog do Rodrigo Constantino e AlefNews