Como Israel planeja se tornar uma Scale Up Nation

POR JEAN SAGHAARD*

TEL AVIV, EM ISRAEL (FOTO: JOE RAEDLE/GETTY IMAGES)

Já conhecida como a Startup Nation, Israel, o pequeno território com pouco mais de 20 mil quilômetros quadrados, e gigante no mundo das startups, está perdendo este rótulo para ganhar outro: Scale Up Nation. Israel não se contenta mais em ter a maior média de startups por habitante, 1 a cada 1.400 pessoas. Atualmente também passou a ser celebrada pelas suas “scale ups”, startups que amadurecem e crescem de forma consistente alcançando milhares (ou milhões) de clientes em pouco tempo.

Para explicar esse fenômeno, o time do Viva Technology convidou alguns experts, entre eles o moderador Yossi Vardi, especializado em investir em negócios digitais, com mais de 80 business fundados ou “investidos” ao longo de sua carreira. Para responder a essa questão de amadurecimento de Israel como país destinado a fomentar empresas de tecnologia ele contou com Nili Shalev, diretora do Israel-Europe R&D Directorate e Yariv Bash, CEO e co-fundador da Flytrex.

Entre as principais razões apontadas para a evolução das startups em Israel, segundo Nili Shalev, está o comprometimento do governo israelense com essas jovens organizações e o amadurecimento das mesmas para que gerem progresso econômico mais substantivo. Ela citou o investimento do governo francês no setor de tecnologia, por volta de 2,5% do PIB, e assinalou que Israel investe mais do que o dobro dessa proporção. Esse mesmo governo também escolhe setores específicos para seus investimentos e oferece facilidades de infraestrutura e conexões para os empreendedores do mundo tech. Na própria Viva Tech, Israel contava com um grande stand com programação extensa.

Vardi então tentou explorar a visão de Yariv Bash, CEO da Flytrex, startup especializada em soluções de serviços comercias (entregas) envolvendo drones. Sua missão é tornar o uso de um drone tão simples quanto manipular um smartphone. Bash explorou as competências de liderança e gestão de muitos israelenses. Ele menciona a experiência militar dos israelenses como um componente que acelera a maturidade dos empreendedores e o próprio ambiente de inovação de Israel. O apetite por risco e a resiliência estão presentes de forma destacada nos game changers do país.

Bash ainda frisou que pequenas equipes têm um grande poder de transformação. Sua experiência revela que, ainda no estágio de startups, times coesos são muito competitivos frente à organizações de maior parte. Todavia, na sua visão, chega um momento em que a organização ganha escala e deve reforçar seus quadros, mas é sempre bom notar que “gente chama mais gente”. Numa scale up, não é só o crescimento das vendas que se torna exponencial, internamente a empresa também cresce rápido, e essa dinâmica merece atenção.

Nesse debate, os especialistas ainda discutiram se existe o momento ou “exit” certo para uma startup ou scale up. Em especial na visão de Bash não podemos romantizar o cenário de oportunidades que os fundadores encontram para tomar suas decisões. Algumas serão negociadas mais maduras, outras num estágio inicial. Algumas serão compradas por grandes empresas como a Amazon, outras farão abertura de capital (IPO) para levantar recursos e seguir crescendo. Cabe aos fundadores decidirem, diante das oportunidades, como vão permitir que suas pequenas empresas continuem a ganhar escala e o mundo.

De qualquer forma, alguns deals como Waze, comprada pela Google, e a Mobileye, comprada pela Intel, podem ter inspirado os empreendedores a esperarem um pouco mais antes de “fazer a colheita”, startups bem iniciadas e resilientes têm potencial para escolher uma melhor “saída” e colher mais frutos graças as suas inovações.

*Jean Saghaard é um entusiasta do mundo digital e do atrevimento das startups e dos rebeldes corporativos. Acredita que samba e Debussy podem conviver e que todos podemos e devemos pivotar ao longo da vida.

Fonte: Época NEGÓCIOS