As empresas de tecnologia devem ajudar a humanidade”, diz fundador da Mobileye e CEO da OrCam

Criar uma empresa com impacto social não se limita a realizar ações filantrópicas. Ao adotar o Capitalismo Consciente, seu principal propósito é contribuir com a sociedade a partir do seu modelo de negócios. O retorno financeiro é consequência dos valores empregados pelas partes interessadas (stakeholders) nessa gestão sustentável e, ao mesmo tempo, lucrativa. Foi o que defendeu Ziv Aviram, fundador da Mobileye e CEO da OrCam, durante palestra no Clube Hebraica, na última terça-feira (27/02), em São Paulo.

“Fazer algo para a humanidade é ambicioso. Quando você consegue criar uma empresa que dá retorno financeiro mas também traz benefícios para a sociedade, seu negócio assume outro patamar. No meu caso, por exemplo, a Mobileye contribuiu com o carro autônomo e a OrCam com as pessoas”, afirmou o empreendedor israelense.

Ziv Aviram que foi CEO da Mobileye por quase 18 anos também ressaltou a importância de observar as tendências do mercado, saber qual é a sua estratégia e identificar quando é preciso mudá-la. “Na Mobileye, por exemplo, eu tomei 10 decisões importantes que mudaram o rumo da empresa ao longo da minha gestão. Para mim, a capacidade de perceber que é preciso adotar outra estratégia quando algo acontece no mercado é o que diferencia empresas rentáveis das que apenas sobrevivem. Foi isso o que eu descobri de mais importante durante o tempo que estive no comando da Mobileye”, contou.

De acordo com a sua experiência de gestão, o maior desafio de uma empresa é manter seus funcionários motivados. “A equipe precisa acreditar que faz parte da companhia e que está conectada ao seu propósito. Vai muito além do salário, é preciso criar um ambiente criativo e confortável. Por isso, uma liderança positiva é fundamental para cultivar esse sentimento. Outro dia, organizei uma festa à fantasia no meio do expediente da OrCam”, explicou.

Para os que estão empreendendo, Aviram orienta: “O fracasso é um aprendizado e não é motivo para perder a fé. Os dois aspectos, na verdade, são a combinação da inovação. É preciso se arriscar e não ter medo do fracasso para ter sucesso. É por isso que existem muitas startups mas poucos unicórnios”.

Mobileye e o carro autônomo
Com Amnon Shashua, professor da Universidade de Jerusalém, Aviram fundou a Mobileye em 1999, empresa pioneira que desenvolveu o software de automação inteligente para o carro autônomo. Seu algoritmo é capaz de detectar objetos, formas e texturas no campo de visão de uma câmera e assim, pode reduzir o número de acidentes e, consequentemente, salvar vidas.

“Começamos uma revolução na indústria automobilísitica há 20 anos. Criamos um sistema de algoritmos que possibilita a condução autônoma sem a necessidade de ter um motorista. Dessa forma, essa tecnologia mudará completamente a maneira como as pessoas vão conduzir carros no futuro, ajudará a previnir acidentes e salvar milhares de vidas”, apontou Ziv Aviram.

A startup israelense que se tornou a principal fornecedora dessa tecnologia, usa uma câmera de lente única (mono-camera) como fonte de informação ao sistema avançado de assistência ao motorista (ADAS) para as principais fabricantes de automóveis do mundo. Em 2017, foi comprada pela Intel por US$ 15,3 bilhões, maior valor pago para uma empresa de tecnologia em Israel. Com a parceria, a meta é desenvolver veículos autônomos até 2021 e continuar inovando com inteligência artificial, machine learning e crowdsourcing.

“Não planejamos vender a Mobileye. Nunca foi nossa estratégia. Mas quando a sua empresa se torna pública, esse é um risco que você corre. Você não controla todas as decisões. Foi o dia mais triste da minha carreira. Parecia que eu estava vendendo um filho. Mas como o valor oferecido estava 20% acima do preço do mercado, o negócio foi fechado”, explicou o empreendedor.

OrCam e a visão artificial
Ziv Aviram fundou a OrCam com seu sócio Amnon Shashua. O unicórnio, avaliado em US$ 1 bilhão, aproveitou o potencial da inteligência e visão artificial e criou o OrCam MyEye, dispositivo vestível e intuitivo que capta objetos no campo de visão para dar mais autonomia aos cegos, pessoas com baixa visão, dislexia ou vista cansada no dia a dia.

Fixado em qualquer armação de óculos, o OrCam MyEye — câmera, microfone e fio conectados a um computador de bolso — fotografa, escaneia e transforma textos em áudio com o apontar dos dedos. A informação será retransmitida discretamente no ouvido do usuário por meio de um fone de ouvido.

No Brasil, o OrCam MyEye é vendido por R$14.900 desde outubro de 2017. O dispositivo que consegue ler em qualquer superfície — livros, revistas, jornais, telas de smartphones e computadores, valores monetários, placas de sinalização e cardápios de restaurante — em tempo real e offline, também é capaz de reconhecer até 100 rostos e 150 produtos previamente cadastrados. Tem garantia de 18 meses e bateria integrada que dura 4,5 horas com uso contínuo.

“A inteligência e visão artificial surgiram para empoderar e beneficiar a humanidade. A missão da OrCam é permitir que pessoas com deficiência visual ou alguma dificuldade de leitura possam estudar, trabalhar e viver suas vidas com mais independência”, ressaltou Ziv Aviram, presidente e CEO da empresa.

O israelense também veio a São Paulo para inaugurar o Espaço de Leitura Bibliotech, primeiro 100% acessível no Brasil. Em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o espaço no Unibes Cultural foi equipado com o OrCam MyEye, o que permitirá que os deficientes visuais tenham acesso a qualquer obra impressa do acervo, em torno de 600 títulos.

Este ano, Ziv Aviram vai lançar o OrCam MyEye 2.0 que promete ter mais funcionalidades como um processador que lê mais rápido que irá aprimorar a interação com o usuário. “Será como ter um ‘anjo sentado no ombro'”, anunciou o CEO.

Fonte: Época NEGÓCIOS