Com o aparecimento de novas variantes do coronavírus SARS-CoV-2, os desafios para o controle da pandemia da COVID-19 aumentaram em todo o mundo. Diante desse cenário, pesquisadores israelenses investem no desenvolvimento de novas terapias contra a doença, especialmente remédios. No momento, são três potencias fórmulas promissoras em testes clínicos.
De acordo com a plataforma Our World in Data, apenas 23,7% da população mundial está completamente vacinada contra a COVID-19. O grande número de pessoas não vacinadas cria um ambiente favorável para novas mutações e permite que variantes mais infecciosas, como a Delta (B.1.671.2), se espalhem pelo globo.
Isso faz com que haja uma necessidade pelo desenvolvimento de “uma série de terapias para casos leves, moderados, graves e críticos da COVID-19”, explica Shai Novik, presidente da Enlivex Therapeutics. Inclusive, a empresa israelense é responsável pelo desenvolvimento de um dos novos remédios, em testes, contra o coronavírus.
EXO-CD24
Inalado uma ver por dia durante cinco dias, o remédio EXO-CD24 é uma das principais apostas da ciência israelense para auxiliar o tratamento de pacientes com COVID-19. A fórmula experimental foi desenvolvida pelo pesquisador Nadir Arber, no Centro Médico Sourasky de Tel Aviv, e foi projetada para interromper a tempestade de citocinas.
Conhecida por afetar os pulmões de 5% a 7% dos pacientes infectados pelo coronavírus, a tempestade de citocinas ocorre quando o sistema imunológico fica descontrolado e começa a atacar próprias células saudáveis, o que acaba por prejudicar todo o pulmão já fragilizado.
Para combater essa condição, o remédio carrega uma pequena proteína encontrada naturalmente no corpo, a CD24, e que pode regular a tempestade de citocinas. Segundo o pesquisador Arber, o EXO-CD24 não afeta o sistema imunológico como um todo, apenas a parte prejudicada. “Isso é medicina de precisão”, comenta.
“Estamos muito felizes por encontrarmos uma ferramenta para lidar com a fisiologia da doença”, afirmou Arber. Até agora, os outros medicamentos usados apresentam algum problema adicional. “Os esteroides, por exemplo, desligam todo o sistema imunológico”, explicou. “Estamos equilibrando a parte responsável pelas tempestades de citocinas usando o mecanismo endógeno do corpo, ou seja, ferramentas oferecidas pelo próprio organismo”, completa.
Nos estudos de Fase 2, cerca de 93% dos 90 pacientes graves com coronavírus tratados em hospitais gregos com o medicamento tiveram alta em até cinco dias. Segundo os responsáveis, os resultados confirmaram as descobertas da Fase I, que foi conduzida em Israel no inverno e observou que 29 de 30 pacientes em condições moderadas a graves se recuperarem em poucos dias.
Agora, o medicamento será testado em um estudo de Fase 3, envolvendo 155 pacientes infectados em Israel. Dois terços receberão o EXO-CD24, enquanto o restante receberá um placebo. A previsão é que o estudo seja concluído até o final de 2021.
Allocetra
Desenvolvido pela Enlivex Therapeutics, o remédio Allocetra é conhecido por reprogramar as células do sistema imunológico com mau funcionamento, chamadas macrófagos. Nesse caso, a fórmula é administrada em dose única, através de infusão intravenosa, em pacientes graves ou críticos já hospitalizados.
“Até o momento, tratamos 10 pacientes críticos e 11 pacientes graves com COVID-19”, comentou o presidente Novik. “Os resultados foram animadores. Não vimos nenhum problema com segurança e tolerabilidade”, conta. Além disso, 19 dos 21 pacientes tiveram alta do hospital em 5,6 dias, em média, após receber a terapia.
No caso do Allocetra, o alvo não é o vírus. O medicamento “tem como alvo o efeito colateral do vírus: falência de órgãos, geralmente nos pulmões, associada à COVID-19″, detalha Novik. Agora, a medicação será testada em um estudo randomizado de Fase 2 com placebo, envolvendo 152 pacientes em Israel e na Europa.
Opaganibe
Formulado pela RedHill Biopharma, o Opaganibe é um medicamento oral com ações antivirais e anti-inflamatórias. A ideia é que seja um aliado no tratamento de casos de pneumonia grave associada à COVID-19. Já está em andamento o estudo de Fase 2/3, envolvendo 475 pacientes em vários continentes.
Como o Opaganibe não atua na proteína de pico do coronavírus (spikes), mas, sim, em um mecanismo que o vírus usa no corpo para se replicar e se espalhar, “acreditamos que continuará a ser eficaz contra a variante Delta e quaisquer variantes futuras com diferenças na proteína spike”, afirma um dos responsáveis pela pesquisa, Gilead Raday.
“Se nossos estudos globais de Fase 2/3 confirmarem ou replicarem os resultados que vimos no uso compassivo e nos estudos de Fase 2, o Opaganibe seria um aliado no tratamento da COVID-19. A pílula pode ser amplamente implementada para pacientes em vários estágios da doença”, completou Raday. Isso porque a fórmula também pode ser usada por pacientes que não foram hospitalizados.
Fonte: The Jerusalem Post e Israel21c
Imagem: Reprodução/HalGatewood/Unsplash